As negociações entre o Governo grego e os credores internacionais sobre o prosseguimento do plano de resgate foram suspensas, esta quinta-feira, sem um acordo, implicando o provável adiamento da decisão sobre o envio da próxima parcela dos empréstimos.
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Os representantes da 'troika' internacional (União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) encontravam-se há duas semanas em Atenas para a audição trimestral às contas do país, mas deixaram esta quinta-feira Atenas, pouco antes da abertura da cimeira europeia, sem obterem acordo com o Governo sobre as próximas medidas.
Os representantes dos credores devem regressar provavelmente no início de abril, e quando a concessão a Atenas de uma nova parcela de 2,8 mil milhões de euros do empréstimo internacional continua dependente do seu veredicto prévio.
De acordo com fontes oficiais gregas não identificadas, citadas pela agência noticiosa AFP, uma das principais divergências centrou-se na insistência da 'troika' em promover mais despedimentos no setor público e que podem abranger 150.000 trabalhadores, uma medida que o executivo de coligação quer evitar a todo o custo.
As duas partes divergem ainda sobre as vantagens que devem ser concedidas às entidades ou cidadãos endividados face ao fisco, segurança social e banca, e quando o Estado pretende intensificar o combate à fraude fiscal para compensar a diminuição dos rendimentos provocados pela prolongada recessão económica e a queda do nível de vida.
A nível oficial, as declarações foram mais tranquilizadoras. "Registaram-se progressos significativos mas permanecem em suspenso algumas questões", lê-se no comunicado emitido pelos credores internacionais.
"A concessão das próximas parcelas [do empréstimo] está na minha opinião assegurada", disse, por sua vez, o ministro das Finanças grego, Yannis Stournaras.
O primeiro-ministro conservador grego, Antonis Samaras, também reafirmou hoje, após a chegada à cimeira europeia em Bruxelas, a importância de um "sobressalto europeu" em favor do relançamento económico, invocando a "amplitude histórica" do desemprego na Grécia, 26% no quarto trimestre de 2012 segundo os números oficiais.
Na capital grega, milhares de estudantes manifestaram-se hoje contra os cortes orçamentais impostos às universidades, no âmbito das reformas estruturais ditadas pelos credores internacionais.
No entanto, Atenas também contou hoje com a complacência do Instituto da Finanças Internacional (IIF), com sede em Washington e um dos principais organismos da banca internacional.
Num estudo, o IIF considera que os objetivos de saneamento orçamental exigidos ao Estado helénico são "irrealizáveis", ao contrário dos fixados para a Irlanda.
No período de 2010-2012, a Irlanda teve de reduzir o seu défice orçamental ao nível de 1,7% do PIB anual, enquanto foi imposta à Grécia uma redução de 5,2%, recorda o organismo bancário.
O IIF defende que os credores internacionais devem suavizar as suas exigências de austeridade e admitir um "financiamento adicional" à Grécia.