O economista Paul Krugman afirmou, em Lisboa, que a zona euro precisa de "uma verdadeira união bancária", considerando que pensar que "a responsabilidade de apoiar os bancos em tempos difíceis é nacional é basicamente uma ideia maluca".
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"Em primeiro lugar, uma coisa que é absolutamente óbvia que tem de ser feita - e era insano não o fazer - é uma verdadeira união bancária", afirmou Paul Krugman, que está em Lisboa para participar numa conferência de homenagem a José Silva Lopes, promovida pelo Banco de Portugal.
Para o Nobel da Economia de 2008, "a ideia de que a responsabilidade de apoiar os bancos em tempos difíceis deve ser [uma responsabilidade] de nível nacional é basicamente maluca e é impor um risco constante".
O economista entende que "é errado pensar nestas crises bancárias puramente como responsabilidade dos países onde elas ocorrem" e deu o exemplo da crise de 2008 nos Estados Unidos da América. "Foi muito regional, não foi um problema nacional: 80% das perdas foram num só Estado, no Estado do Texas. Mas o Texas não teve de pagar por isso, o orçamento nacional é que pagou", recordou Krugman.
O professor da Universidade de Princeton deu um exemplo de como funcionaria uma "verdadeira união bancária" na zona euro: "Imaginem Portugal a enfrentar a troika e a pedir 25% do PIB [Produto Interno Bruto] como presente. É isso que deve acontecer se tiverem uma verdadeira união bancária".
Krugman considera que isto "tem de acontecer" mas admite que "vai levar alguns anos e [que] não vai ser retrospetivo", sublinhando que a Europa tem de ter em mente que "da próxima vez podem ser os países do Norte" a precisar de ajuda europeia.
O segundo aspeto que Paul Krugman referiu foi a necessidade de haver "uma verdadeira união orçamental" na zona euro, considerando que "este é um sonho distante, mas [que] talvez seja possível convencer as pessoas de que nunca se sabe quem é que vai estar em perigo" a seguir.
O académico referiu-se à economia alemã em 1999, que "era muito deprimida" e que "conseguiu tornar-se próspera, criando grandes excedentes comerciais, em contrapartida de grandes défices comerciais na Europa do Sul".
Krugman referiu que o contrário não se verificou agora e destacou que os países do sul enfrentaram "uma austeridade severa", mas que "não houve uma aceleração da inflação na Alemanha".
O economista reconheceu que "tudo isto é muito difícil de ver, não tecnicamente, porque as ferramentas estão lá", mas essencialmente pela "vontade política" que seria necessária a nível europeu.
"A Europa ainda é uma incrível história de sucesso", defendeu, e "a capacidade de Portugal de se tornar parte desta história é também uma história incrível de sucesso".
No entanto, Krugman sublinhou que os problemas da economia portuguesa não estão todos resolvidos: "Agora [Portugal] está numa situação muito difícil, o desemprego é muito elevado e seria ainda mais elevado se as pessoas não estivessem a sair, ainda é uma economia fraca".