A Noruega é o primeiro país do mundo a ter mais veículos elétricos do que veículos a gasolina, o que coloca o país na vanguarda da eliminação dos veículos movidos a combustíveis fósseis das suas estradas.
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A Noruega é um dos principais produtores de petróleo - em 2020, era o 13º maior produtor a nível mundial - mas é motivo de destaque por ser o primeiro país do mundo a ter mais veículos elétricos do que veículos a gasolina.
Dos 2,8 milhões de automóveis particulares registados na Noruega, 754 .303 são totalmente eléctricos, em comparação com 753.905 que funcionam a gasolina, informou a Federação Norueguesa de Viação (OFV), uma organização do setor. Os modelos a gasóleo continuam a ser os mais numerosos, com pouco menos de um milhão de unidades, mas as vendas estão a diminuir acentuadamente.
“Isto é histórico. Um marco que poucos previram há 10 anos”, afirmou o diretor da OFV, Oyvind Solberg Thorsen, em comunicado.
“A eletrificação da frota de automóveis de passageiros está a avançar rapidamente e a Noruega está, assim, a caminhar rapidamente para se tornar o primeiro país do mundo com uma frota de automóveis de passageiros dominada por automóveis elétricos”, acrescentou. A velocidade a que a frota automóvel norueguesa está a ser renovada “sugere que em 2026 teremos mais automóveis elétricos do que automóveis a diesel”, revelou Oyvind Solberg Thorsen.
“Tanto quanto sei, nenhum outro país do mundo se encontra na mesma situação”, com os veículos eléctricos a ultrapassarem os carros a gasolina, sublinhou o responsável norueguês à agência AFP.
De acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), os veículos elétricos representaram apenas 3,2% do parque automóvel mundial em 2023 - 4,1% em França, 7,6% na China e 18% na Islândia -, incluindo os veículos híbridos recarregáveis, ao contrário dos dados noruegueses.
"Estamos quase lá"
A Noruega, paradoxalmente um grande produtor de petróleo e gás, estabeleceu o objetivo de vender apenas veículos com emissões zero até 2025, dez anos antes da meta traçada pela União Europeia, da qual não é um país-membro.
Impulsionados pelas vendas do Tesla Model Y, os veículos totalmente elétricos constituíram um recorde de 94,3% dos registos de automóveis novos em agosto na Noruega, o que contrasta fortemente com as dificuldades encontradas noutras partes da Europa.
“Estamos quase lá”, salienta Christina Bu, diretora da Associação Norueguesa de Veículos Elétricos. “Agora, o Governo só tem de fazer um esforço suplementar no projeto de lei do orçamento para 2025 (a apresentar ao parlamento a 7 de outubro) e resistir à tentação de aumentar os impostos sobre os veículos elétricos, continuando a aumentar os impostos sobre os veículos a combustível”, disse à AFP.
Incentivos
Na Noruega, há generosas reduções fiscaispara os veículos elétricos, tornando-os competitivos em comparação com os carros a gasolina e gasóleo, que são altamente tributados, bem como com os veículos híbridos.
Outros incentivos aos veículos elétricos, como isenções de portagens, estacionamento gratuito e utilização de faixas de transportes coletivos, também desempenharam um papel importante no sucesso da Noruega, embora tenham sido gradualmente reduzidos ao longo dos anos.
Foi um longo caminho comparando com o cenário há 20 anos: em setembro de 2004, a frota automóvel do país contava com 1,6 milhões de automóveis a gasolina, cerca de 230 mil automóveis a gasóleo e apenas mil veículos elétricos, segundo a OFV.
A transição para a mobilidade elétrica desempenhou um papel importante nos esforços da Noruega para cumprir os seus compromissos climáticos, que incluem uma redução de 55% dos gases com efeito de estufa até 2030 em relação aos níveis de 1990.
Europa híbrida
Este caso de sucesso contrasta fortemente com a situação no resto da Europa, onde as vendas de veículos elétricos estão a cair à medida que os modelos híbridos se tornam mais populares.
As vendas de automóveis elétricos começaram a cair no final de 2023 e representam apenas 12,5% dos automóveis novos vendidos no continente desde o início do ano, de acordo com a Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis (ACEA).
Prevê-se que a sua quota de mercado aumente acentuadamente em 2025, para 20 a 24% dos registos de automóveis novos, de acordo com o grupo de reflexão Transport & Environment (T&E).
Há quem duvide da capacidade da UE para proibir completamente os automóveis a combustível e a gasóleo até 2035.
Na Suécia, país vizinho da Noruega e membro da UE, as vendas de novos veículos elétricos diminuíram este ano pela primeira vez, de acordo com o grupo industrial Mobility Sweden, provavelmente devido a uma decisão do governo de eliminar um desconto na compra de veículos elétricos.