Primavera BSS A estação mais aguardada do ano deu nome a uma tecnológica que continua a florescer em tempos de crise. Chama-se Primavera BSS e nem a austeridade em Portugal lhe cortou pujança nas vendas para o mercado doméstico. Com quase 40% da faturação no exterior, descubra o 'código fonte' de um software made in Portugal com sucesso.
Quem acha que as tecnológicas são quase todas americanas ou do Extremo- -Oriente, são cotadas no Nasdaq ou então startups com meia dúzia de colaboradores, o nome é obrigatoriamente em inglês e lançam produtos para nerds... engana-se. As exceções existem para confirmar as regras e se há exemplo disso, dá pelo nome de Primavera BSS. A tecnológica fundada em Braga em 1993 não encaixa em qualquer dos estereótipos anteriores e, no entanto, ela move-se numa espiral de sucesso. São 230 colaboradores que trabalham no desenvolvimento de software para facilitar a vida de quem gere empresas. Os números da Primavera impressionam: a tecnológica tem 40 mil empresas clientes em duas dezenas de países, 18 mil deles com contrato de continuidade. Um dos segredos da expansão internacional - que passa ainda por uma presença direta em Espanha, Angola e Moçambique - assenta na rede de quase 400 parceiros estrangeiros. Portugal atravessa uma recessão económica sem precedentes mas os negócios da Primavera florescem. A tecnológica regista lucros na casa dos dois dígitos e no mercado doméstico o volume de negócios continua a crescer.
A questão mais natural parece óbvia: o que fazer para prosperar em tempo de recessão? Jorge Batista, Co-CEO e um dos fundadores da empresa, identifica o fator chave de sucesso recorrendo a uma sigla: "É o resultado de um forte investimento em I&D (Investigação e Desenvolvimento), constante ao longo de vários anos e de investimento em mercados de elevado crescimento como os PALOP, especialmente Angola e Moçambique). Estamos a obter retorno desse investimento. Da mesma forma a nossa aposta em Espanha, que já vem desde 2006, começa agora a trazer frutos." O responsável da Primavera considera que o crescimento no mercado doméstico resulta da oferta mais alargada em termos de produtos e serviços que tem por base a I&D feita pela tecnológica.
África e Américas: as geografias mais promissoras
Se estiver a ponderar entre diversas geografias para investir, tome nota do conselho do CEO da Primavera: o continente africano e o americano - América Central e do Sul - estão em ritmo acelerado de desenvolvimento e é aí que está uma boa parte dos recursos que vão ser explorados nas próximas décadas. "São países onde tudo está por fazer e as oportunidades são de outra dimensão". Jorge Batista alerta contudo que não são de descurar as oportunidades que existem em economias maduras como a americana e algumas do Extremo-Oriente. No entanto, acrescenta que "são economias onde temos de ter outras armas, organização e capacidade de servir tecnologias distintas. Daí a importância da inovação e do investimento continuado em I&D".
Paciência: o segredo para estabelecer parcerias no exterior
Empresa portuguesa que queira sobreviver, sabe de cor a palavra mágica: exportar. Nada melhor que uma companhia que fatura quase 40% no exterior para deixar algumas pistas de uma internacionalização bem sucedida. "Não há segredos nem receitas para se estabelecer parcerias porque cada caso é um caso. Mas a persistência em procurar solidificá-las até que os negócios aconteçam é um bom princípio." Jorge Batista acentua que o caminho para o sucesso é longo. "Se acreditamos no mercado e que encontramos os parceiros certos - com recurso a pesquisa prévia - então há que fazer um caminho com esses parceiros, investir na relação para mais tarde tirar os proveitos". Há ainda que ter em conta que os mercados não são todos iguais. O CEO da tecnológica alerta que "há casos onde é extremamente difícil entrar, sobretudo em mercados maduros, muito regulados ou com cultura protecionista. Por vezes nem são proteções alfandegárias mas sim a cultura do consumo". Por isso considera que é preciso saber interpretar esses mercados com os parceiros locais concluindo que não se constroem parcerias de um dia para outro: "É precisa muita paciência".
O crescimento exponencial das tecnológicas nacionais nos últimos anos dá, aliás, um "case study". Na opinião do líder da Primavera "somos um país que nos últimos anos cresceu muito em termos de conhecimento, temos mais doutorados e um ecossistema de conhecimento mais forte". O Estado tem dado um impulso adicional através da pressão positiva de políticas públicas que incentivam as exportações. "Exportar tecnologia é mais fácil que outras áreas, sobretudo se o fizermos para mercados que não estejam dependentes de âncoras fiscais ou legais como acontece com a Primavera". A verdade é que existe hoje um número significativo de tecnológicas com expressão em mercados internacionais e outras em crescimento. Jorge Batista defende que "somos um país que gosta de tecnologia e isso sente-se no florescer desta industria".
Com tecnológicas a surgirem como cogumelos, valerá a pena perguntar se estamos perante um oásis setorial. "Há de tudo como em todos os setores. Tecnológicas em dificuldades e outras que estão a tirar partido das oportunidades que surgem em momentos de rutura nas economias". Para o responsável da Primavera vários fatores pesam no desempenho em tempos recessivos: do track record da empresa, à dispersão geográfica, passando pela capacidade de resiliência das equipas de gestão. "A diferença" salienta "é ditada por aquilo que os líderes acabam por construir em termos de forças ou fraquezas das suas empresas".
O posicionamento da tecnologia Made in Portugal
Na altura de analisar a imagem da tecnologia made in Portugal, Jorge Batista não hesita na resposta: "Tem que se vencer barreiras. O facto de não sermos catalogados como um país tecnológico obriga a um esforço superior. É necessário vencer pela competência". No caso português precisamos de dar o primeiro passo, "sentarmo-nos à mesa com a pessoa certa do lado dos clientes e mostrar o que somos capazes". Uma nota final para uma barreira no mercado interno: a imagem da oferta nacional por parte de alguns gestores públicos e privados precisa de mudar. É hora de nos voltarmos para a nossa oferta "que é belíssima em todas as áreas. Se a consumirmos estamos a fazer crescer a economia nacional e não a dos outros".
