Enquanto espera pela sua vez de entrar em órbita, investe num autocarro, encomenda dois navios e investe 13 milhões num centro lúdico em Miragaia
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Qual o ponto de contacto entre uma viagem ao espaço e uma caravela que chega ao Brasil? Representam ambas novas fronteiras. Mário Ferreira parece apostado em ir por aí: projetos novos como o Centro Lúdico das Descobertas, em Miragaia, no Porto, mas também novo hotel no Douro, quatro novos barcos-hotel e dez autocarros turísticos. Em 2013 o empresário verá tudo isto da nave que o porá fora de órbita...
Os investimentos são como as cerejas - vêm uns atrás dos outros. Quando Mário começou a pensar em fazer cruzeiros no Douro ainda o Porto não tinha tantas companhias aéreas a aterrar no Sá Carneiro.
Mas chegou mais gente e isso ajudou a criar mais dinâmica na procura dos barcos hotel ou viagens curtas entre as pontes da cidade. A seguir investiu em hotéis no Douro e agora lança mais dois novos projetos turísticos para funcionarem entre Porto e Gaia enquanto espera pelo OK para a primeira viagem galáctica.
Para 44 anos, não se pode dizer que Mário tenha vivido pouco ou que lhe faltem projetos.
Mas qual o que mais o motiva neste momento?
Arcos de Miragaia, em frente à Alfândega do Porto: num edifício em reabilitação e que albergou, há mais de dois séculos, as primeiras caves de vinho do Porto da Real Companhia Velha, dois responsáveis de obra da Somague vêm ter com Mário Ferreira. Ele já tem um capacete como seu nome e um colete dependurado à porta das obras. A primeira coisa que faz, todas as manhãs é ir ver como estão a correr as obras na futura sede da Douro Azul, que partilhará o edifício com um outro projeto novo na cidade: o Centro Lúdico das Descobertas.
Na porta o montante do investimento - 13 milhões de euros - apoiado pelos fundos comunitários. Lá dentro, uma enorme atividade de trabalhadores, materiais e o ruído da betoneira que está a calçar alguns pilares . "Isto tem de estar pronto em agosto", diz Mário Ferreira. Não se fica com a certeza de os responsáveis da obra estar em confortáveis como prazo, mas, de qualquer forma, estamos a falar apenas das obras dos escritórios e auditório para 80 pessoas.
Na parte do Centro Lúdico não há um prazo à vista. "Não dá para fazê-lo nem a correr nem a brincar". A Mystic Invest é a empresa do grupo que assegura o projeto depois de ter vencido um concurso público lançado pela Câmarado Porto.
Que atrações existem no Porto que segure os turistas por mais de três dias, ou que os faça quererem voltar para ver o resto? Quem se limita à cidade e às caves não tem uma oferta "mass-market" muito vasta. O "Centro lúdico e cultural representativo da epopeia dos descobrimentos portugueses" pode ser um dos primeiros "museus tecnológicos" da cidade, a exemplo do que acontece há já muitos anos em todas as grandes cidades turísticas europeias. A ideia é aproximar a imagem do Porto à história das Descobertas aos olhos dos turistas (essa ideia está muito concentrada em Lisboa com os Jerónimos e a Torre de Belém ou o Padrão dos Descobrimentos), mas o Porto teve igualmente um papel notável na epopeia.
Os visitantes vão ter à entrada uma experiência com imagens, sons e materiais que expliquem como eram os preparativos para uma grande viagem das Descobertas e depois vão navegar virtualmente no resultado: barcos sujeitos a tempestades, monstros marinhos, piratas e inúmeras peripécias. Por fim, o desembarque em novas terras repletas de florestas tropicais com animais selvagens e plantas exóticas.
Mário Ferreira venceu o concurso com uma equipa que inclui um "designer de patrimónios e eventos", Jan Faulkner e consultores ligados a marcas como "Imagineering Workshops da Disney" e "Petersham Group" (que trabalhou com a "Merlin" no Sea Life do Porto). Os conteúdos históricos estão a cargo do Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade( CEPESE) da Universidade do Porto, liderados por Fernando Sousa.
Vêm aí os Baby Boomers
Mas o negócio principal da Douro Azul continua a ser "cruzeiros do Douro". E face a isso, Mário Ferreira está otimista face aos próximos anos.
Com ou sem Douro Património Mundial, Portugal (e o Douro) estão na rota do turismo histórico.
A empresa nortenha descobriu já há algum tempo que muitos clientes dos cruzeiros tinham também vontade de conhecer Lisboa.
Estratégia: os turistas aterram na Portela, fazem três dias entre Lisboa, Sintra e Cascais, e depois vêm de autocarro para o Porto para fazer o programa da cidade e dos cruzeiros.
Mas neste momento, com a crise das economias e aumento do custo dos bilhetes de avião pela pressão do preço do petróleo, coloca-se uma questão: onde está o mercado em crescimento que faz Mário Ferreira construir dois novos navios cruzeiro-hotel para entrarem em funcionamento em 2013, e outros dois para 2014, num investimento total de 23 milhões de euros?
A resposta é uma expectativa (muito estudada no mercado turístico mundial): a partirde2016, grandes países como os Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e Austrália vão ter a geração "baby boomer"( as crianças nascidas depois da II Guerra Mundial) a reformar-se. "O que têm estas pessoas em comum? Trabalharam muito, viajaram pouco e pouparam. Agora têm tempo e necessidade de ir ver e conhecer", diz o dono da Douro Azul.
Perante esta oportunidade de crescer em clientes e no segmento "luxo", o objetivo é colocar em operação navios com aumento do rácio de espaço por passageiro.
Os atuais têm 65 cabines enquanto os novos terão apenas 54 e janelas maiores. As maiores inovações tecnológicas passam por dotar as coberturas de painéis solares que darão uma quase autonomia ao consumo elétrico dentro das embarcações, ao mesmo tempo que os novos motores consomem menos um terço de combustível e passarão a ser dotados de estações de tratamentos de resíduos ultrassofisticados.
O resultado final será o reforço dos negócios da empresa, que espera chegar a 2014 com 35 milhões de euros no volume de negócios.
Dessa forma, 18 mil turistas virão a Portugal para fazer os cruzeiros da Douro Azul. Mas Mário Ferreira gostaria de ver melhores lojas e atracões em pleno Douro para que os turistas gastassem um pouco mais ao longo dos cruzeiros, em compras na região, e acabasse de vez a crítica de que os barcos não deixam euros por ali. "Eu não posso fazer tudo sozinho. As pessoas também têm de ter ideias e investir um bocadinho".
Mário vai regularmente aos estaleiros da Naval Ria, em Aveiro, acompanhar a evolução da construção dos dois navios-hotel com entrega prevista para 15 de fevereiro e 15 de março de 2013. As negociações levaram à entrega da obra aos estaleiros da Martifer porque "os de Viana não conseguem ser competitivos", explica. "Se passar pelos estaleiros ao sábado, aquilo parece um estádio, está cheio de gente a trabalhar. Há quatro frentes de corte de chapa, três frentes de montagem de blocos e várias tendas tipo "festa" que se movem para onde precisam porque aquilo não pode ser feito à chuva. É uma ideia engenhosa". A Douro Azul vai adjudicar até junho mais dois navios iguais e as hipóteses em cima da mesa são os estaleiros de DeHoop(Holanda), Arrone (Vigo) ou da Naval Ria.