A crise da dívida grega atingiu este sábado o clímax, cinco anos depois do primeiro resgate, com o fracasso das negociações entre Atenas e os credores internacionais e o anúncio do primeiro-ministro da realização de um referendo.
Corpo do artigo
A Grécia foi o primeiro país da zona euro a receber ajuda na sequência da crise financeira e o único a contar com dois planos de resgate internacional, aprovados em 2010 e em 2011, no valor total de 254.700 milhões de euros.
O futuro é incerto depois da decisão do Governo de Alexis Tsipras de marcar um referendo sobre as propostas de reforma dos credores - Banco Central Europeu (BCE), Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional (FMI) - e a decisão destes de suspenderem as negociações e recusarem um prolongamento do resgate.
Na terça-feira, dia em que termina o atual prazo, a Grécia devia pagar ao FMI 1.600 milhões de euros, pagamento que não deverá ser efetuado por falta de acordo, como deixaram antever nos últimos dias vários membros do Governo grego.
A falta de pagamento ao FMI não constitui formalmente um incumprimento, mas coloca a Grécia em situação de "rutura das obrigações".
A questão mais urgente é saber se o BCE vai manter, apesar da rutura, o acesso da banca ao mecanismo de assistência, única fonte de liquidez à qual as entidades financeiras gregas conseguem aceder desde fevereiro.
O Conselho de Governadores do BCE deverá realizar no domingo uma teleconferência para decidir se fecha a "torneira" da liquidez, ou se a mantém aberta.
As regras do BCE estabelecem que este tipo de créditos só pode ser facilitado a bancos com solvência, o que é cada vez mais questionado relativamente às instituições bancárias gregas.
Para evitar uma maior retirada de depósitos, registada nas últimas semanas, o Governo devia impor um controlo de capitais, o que seria oportuno, mas podia enviar uma mensagem negativa antes da realização do referendo.
Caso deixe de obter liquidez através do mecanismo de assistência, o Governo poderá ser obrigado a emitir notas de pagamento aos funcionários e pensionistas e, a médio prazo, se não for alcançado um acordo, introduzir uma nova moeda fortemente desvalorizada em relação ao euro.
No caso de as negociações não serem retomadas, a situação pode precipitar-se, com cenários políticos e sociais incertos.
Uma das possibilidades seria a saída da Grécia do euro - Tsipras tem rejeitado esta hipótese até agora -, um facto sem precedentes na zona euro e não previsto nos tratados europeus, o que leva alguns peritos a pensar que a saída da moeda única só é viável se acompanhada por uma saída da UE.
Sobre um possível regresso ao dracma, os analistas defendem posições diametralmente opostas.
Alguns defendem que, a médio prazo, existiriam novas perspetivas, já que a Grécia podia voltar a ser competitiva. Outros desenham um quadro apocalíptico, com um empobrecimento galopante da população, devido à incapacidade do país de financiar as suas compras externas em moedas fortes: euro ou dólar.
Embora a maioria dos cidadãos seja partidário da manutenção na zona euro, nos últimos dias tem crescido a ideia de que Bruxelas não está interessada em manter a Grécia na UE.
Sobre o medo de a Grécia voltar a ter dracmas, um empregado de um café afirmou: "O que acontecer, acontece a todos. Então porquê ter medo?".