Lojas, oficinas, cafés e fábricas dinamizam economia com potencial.
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Carlos Simões entra para pedir ao técnico que afine uma roda da bicicleta que comprou para oferecer à neta. Nuno Araújo arruma num canto a bike que começou a usar há dois anos e dá uns passos em direção ao café. É lá que está João Santos, outro amante das duas rodas, de volta dos petiscos que alimentam a tertúlia de fim de tarde no "Zé das Bikes".
Este espaço inovador abriu portas há dois anos, no centro da cidade de Aveiro, fruto do empenho dos sócios Adriano Gomes, Paulo Ramires e Daniel Santos. No mesmo local, coexistem loja, oficina de reparações, aluguer e café - que se tornou ponto de encontro dos amantes das duas rodas, sejam clientes locais ou turistas de passagem. O nome foi recuperado de uma loja que fechou portas no final dos anos de 1990, na cidade, mas os sócios acreditam que a bicicleta tem "potencial" para continuar a crescer, se se criarem "condições" para os utilizadores.
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Agora é lá que a bióloga Joana Silva vai descontrair com as amigas. Já pedalou no Reino Unido e na Alemanha, onde esteve emigrada e encontrou boas condições para andar de bicicleta, por existirem "zonas de circulação bem definidas, com continuidade e ligação a zonas periféricas". De regresso à terra natal, Joana continua a pedalar, mas lamenta a "falta de infraestruturas" que fomentem o uso e transmitam "segurança".
Em 2011, também Miguel Barbot decidiu investir nesta área, criando a Velo Culture. Hoje tem duas lojas, no Porto e em Matosinhos, onde dá seguimento ao que defende em termos de mobilidade urbana. Tem bicicletas utilitárias, serviços de oficina e restauro, além de aulas de mecânica.
Em Lisboa, a Cenas a Pedal abriu em 2006 para facilitar a vida a quem, como a proprietária Ana Pereira, procura outros modos para se mover na cidade. Além da venda de bicicletas utilitárias e workshops de mecânica, ali funciona uma escola onde se ensinam crianças e adultos a equilibrarem-se nas duas rodas e a saberem circular em zonas de elevado tráfego. Desde 2008, terão ensinado "cerca de 1200 pessoas".
Há toda uma economia que gira à volta das duas rodas. Em pequenos e grandes negócios. De acordo com a ABIMOTA, a Associação Nacional das Indústrias de Duas Rodas, Ferragens, Mobiliário e Afins, Portugal é o segundo maior produtor de bicicletas da Europa, tendo fabricado 2 milhões de unidades em 2018. Ainda não há números de 2019.
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Só entre os associados da ABIMOTA, há 70 empresas (de fabrico, montagem e componentes) que, em 2018, empregavam 5447, número que "aumentou" no ano passado, diz o secretário geral da associação, Gil Nadais. Em 2018, o setor faturou "800 milhões de euros". Mas apesar dos números expressivos, "em Portugal ficam menos de 10% das bicicletas montadas no nosso país", sendo a maioria da produção exportada para países como Espanha, França e Alemanha.
Portugal tem um "potencial enorme", diz Gil Nadais para quem são necessárias medidas que ajudem a "alavancar uma maior utilização das bicicletas e conduzir a uma mudança de hábitos".