A covid-19 fez cair as vendas de muitos doces tradicionais, mas alguns escaparam ou conseguiram recuperar em 2021. Entre as boas surpresas estão os ovos-moles. Em 2019, a Associação de Produtores de Ovos-Moles de Aveiro (APOMA) registou uma produção de 297 toneladas e, em 2020, viu os números caírem para as 192 toneladas. Contudo, em 2021 a produção voltou a subir e atingiu as 334 toneladas. Ou seja, no ano passado superou os números pré-pandemia.
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"As pessoas, quando tiveram oportunidade de reinvestir em momentos de alegria, lembraram-se dos ovos-moles", diz José Francisco Silva, presidente da APOMA, revelando que vários produtores foram "para a rua" nos confinamentos, fazendo com que o doce chegasse a casa dos apreciadores.
Também a empresa que detém a Fábrica de Tortas Azeitonense, em Setúbal, viu as vendas das tortas de Azeitão sofrer uma redução em 2020, mas no ano passado notou uma recuperação que até suplantou o volume de 2019. Segundo o diretor, Duarte Matos, a soma das vendas da fábrica (que comercializa para supermercados) e da loja de venda ao público, caíram quase 14% em 2020. Mas, em 2021, face à angariação de novos clientes para revenda, conseguiram crescer e produziram quase mais 25% do que em 2019.
Os jesuítas de Santo Tirso (ler texto ao lado) também surpreenderam e mantiveram a tendência de crescimento.
Caiu para metade
Já no pão de ló de Ovar, a pandemia provocou "uma quebra de cerca de 50% no fabrico, principalmente no primeiro ano", disse ao JN Alda Soares de Almeida, presidente da Associação de Produtores, lembrando que o concelho teve um cerco sanitário devido ao elevado número de doentes (reportagem ao lado).
Nos últimos dois anos, também se venderam menos fogaças em Santa Maria da Feira. Sem quantificar, Fernando Moreira, presidente do Agrupamento de Produtores de Fogaça da Feira, adianta que "a falta de movimento e de eventos" levou a uma "quebra significativa". Desenvolveram-se serviços de entrega ao domicílio no concelho e algumas fogaças até terão seguido "por correio". As estratégias, ainda que não tenham compensado a falta de clientes, ajudaram a "amparar" os empresários.
Daniela Dias, presidente da Associação dos Pasteleiros de Tentúgal, revela que os produtores destes pastéis tradicionais do concelho de Montemor-o-Velho sentiram igualmente um decréscimo nas vendas. Com as "entregas ao domicílio e takeaway, conseguiram minorar as dificuldades e sobreviver". Nos meses de verão de 2021, houve mesmo um "boom de vendas, mas não foi suficiente para colmatar os prejuízos". Contas feitas, nos últimos dois anos as vendas sofreram uma redução de "40% a 50%".
Na empresa Pastéis de Belém, em Lisboa, os típicos doces tiveram uma "quebra enorme, à vontade 50%", sendo que "2020 foi pior", já que a loja teve mesmo de fechar portas durante algum tempo, explica a cogerente Penélope Clarinha. "Atualmente, ainda não estamos nos níveis de 2019, mas estamos com um movimento aceitável", diz ao JN. A loja já tinha serviço de takeaway e entregava pela Uber, ainda que inicialmente num raio restrito e só recentemente para toda a cidade. No verão do ano passado, para tentar impulsionar as vendas, colocaram um posto de venda nos jardins em frente, para quem não quisesse entrar poder adquirir o produto.
Paulo Rosário, da Casa de Doces Regionais, em Lagos, conta que a redução nas vendas foi de "mais de metade" e os algarvios dom-rodrigos, um doce que se vende quase exclusivamente em pastelarias, não chegaram aos apreciadores. O ano de 2020 foi o pior, por terem estado fechadas. A recuperação já se nota, mas "não atingiu ainda valores de 2019", afirmou o empresário.
Ovos-moles querem chegar ao Brasil
Os ovos-moles de Aveiro estão a ser exportados. Já se fazem algumas vendas para países da Europa e agora os produtores procuram chegar ao Brasil, algo só possível devido à congelação. Para evitar falsificações, estão a ultimar o registo do doce, que tem indicação geográfica protegida, no Instituto Nacional da Propriedade Industrial Brasileira.