Os produtores de vinho portugueses andam com o credo na boca por causa das implicações que a Covid-19 está a ter no setor.
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Vende-se muito pouco, sem negócio não há dinheiro para continuar a trabalhar a vinha, as adegas estão cheias e a próxima vindima está a menos de seis meses. O apoio à destilação para transformar vinho em álcool sanitário é solução unânime para minimizar o caos.
"Estamos a acompanhar estes tempos com muita preocupação", confessa António Saraiva, presidente da Associação de Empresas de Vinho do Porto.
O Brexit já tinha feito soar as campainhas de alarme no setor do principal embaixador português, mas agora é pior, porque "ninguém sabe muito bem o que vai acontecer". A única certeza é "uma quebra contínua das vendas" e essa é que é "a parte complicada", tendo em conta que "qualquer dia a vindima está à porta" e "as questões sem resposta são muitas".
O encerramento de hotéis, restaurantes, bares e eventos turísticos é responsável pela diminuição das vendas, também, nos vinhos de mesa.
só sai gama média/baixa
Os impactos são "terríveis e devastadores", assevera o presidente da Comissão Vitivinícola Regional do Dão, Arlindo Cunha. Como "o vinho não é um bem de primeira necessidade", o pouco que vai saindo "é o da gama média/baixa e em bag-in-box", que "é o que se vende mais nas superfícies comerciais para o consumo no dia a dia".
Os dados de março confirmam "alguma diminuição" no negócio ao presidente da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana, Francisco Mateus. Mas em termos de atividade, nas empresas "houve uma redução média de 50%", o que deixa antever que no mês de abril "o efeito real da pandemia vai ser sentido muito mais". Sobretudo para quem vende para restaurantes e garrafeiras.
"Não é com grande otimismo que olho para os tempos que aí vêm", confessa Francisco Mateus, pois, à medida que os dias passam, "a capacidade de cumprir compromissos com pessoal e fornecedores vai deteriorar-se ainda mais".
2020: "um ano mau"
Na região dos vinhos verdes fazem-se contas à vida. De acordo com Manuel Pinheiro, presidente da Comissão de Viticultura, "o primeiro semestre do ano é o mais forte em termos de vendas" e "a exportação baixou bastante, assim como a colocação em restaurantes e garrafeiras". Apesar de ser "cedo para estimar perdas", não duvida de que 2020 "vai ser um mau ano".
A destilação de vinhos para a produção de álcool sanitário está a ser defendida pelas organizações vitivinícolas como uma solução que, no imediato, pode resolver dois problemas, de acordo com António Saraiva: "Aligeirar a pressão sobre a próxima vindima", ao diminuir os stocks injetando dinheiro no setor, e "responder à crise sanitária" introduzindo mais álcool-gel no mercado.
preço mínimo
Arlindo Cunha espera que seja garantido um "preço mínimo garantido ao produtor ou ao armazenista", para que, pelo menos, "cubra os custos de produção", enquanto Francisco Mateus defende que a destilação deve ser "uma resposta rápida e conjunta da Europa". "Tem de mostrar que consegue estar unida neste momento de dificuldade para todos, caso contrário é o descrédito total", sublinha o presidente da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana.