O Parlamento do Chipre votou, em peso, contra o imposto sobre os depósitos bancários.
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Os votos contra foram 36, sendo que houve 19 abstenções. O Parlamento cipriota tem 56 deputados e um deles faltou à votação.
O imposto sobre os depósitos era a condição para o país poder contar com um empréstimo de 10 mil milhões de euros.
No início do debate, o presidente do Parlamento, Yiannakis Omirou, tinha já apelado aos deputados para votarem contra a "chantagem" do acordo negociado com a "troika".
Já durante a tarde desta terça-feira, o presidente do Chipre, Nikos Anastadiadis, tinha dado como certo que o Parlamento iria recusar o imposto especial.
O desafio de Yiannakis Omirou teve uma imediata correspondência no hemiciclo, com deputados de várias formações políticas a insurgirem-se contra a sugestão de um imposto sobre os depósitos bancários, enquanto milhares de pessoas se manifestavam no exterior do edifício pela rejeição do acordo anunciado no sábado pelos credores internacionais.
"Apenas existe uma resposta: não à chantagem", considerou Omirou, do Partido socialista Edek. "A nossa exigência é que este acordo deve ser renegociado. Se este imposto for aprovado, nenhum investidor estrangeiro manterá aqui o seu dinheiro", avisou.
Os deputados do partido do presidente conservador Nicos Anastasiades, o Disy, decidiram por unanimidade não participar na votação, uma posição que "reforçará a posição da República de Chipre durante as negociações", precisou um responsável do partido.
No exterior do Parlamento, milhares de pessoas exigiam a rejeição do plano e avisavam que a sua aprovação poderá implicar medidas idênticas a outros países da zona euro, como a Espanha ou a Itália. A multidão aplaudiu a decisão tomada pelos deputados e cantou "O Chipre pertence ao povo".
"A voz do povo foi ouvida", disse Andreas Miltiadou, um reformado de 65 anos, que se juntou aos manifestantes.
Após uma contestação generalizada e o adiamento por duas vezes do debate parlamentar, a mais recente proposta do plano de resgate prevê a aplicação de um imposto de 6,75% para os depósitos entre 20.000 e 100.000 euros, e de 9,9% acima desse montante, ficando os depósitos inferiores a 20.000 euros isentos de qualquer taxa.
Esta medida inédita foi negociada no âmbito de um plano de resgate negociado entre o presidente cipriota e a 'troika' de credores internacionais e deveria garantir receitas de 5,8 mil milhões de euros. Os restantes 10 mil milhões do empréstimo seriam provenientes dos credores.
Há quatro dias que os bancos permanecem encerrados na República de Chipre (a parte grega da ilha mediterrânica, cerca de dois terços do território e reconhecida internacionalmente), enquanto a Bolsa de valores cipriota decida suspender até hoje as suas transações.
Chipre afirma necessitar de 17 mil milhões de euros para enfrentar a crise da dívida, e solicitou um pedido de ajuda financeira em junho.
O presidente do Chipre vai reunir, quarta-feira, com os grupos parlamentares, em busca de uma solução para o impasse.