Se a riqueza gerada "é inquestionável", o papel das estruturas é ainda mais relevante na fixação de talentos.
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São já 600 empresas, seis mil trabalhadores e mais de 300 milhões de euros de volume de negócio anual o resultado da atividade da Rede da Associação do Parque de Ciência e Tecnologia do Porto (PortusPark). Ao todo são oito parques de ciência e tecnologia e três incubadoras, instalados no Norte do país.
Uma fonte do PortusPark indicou que estudos da associação confirmam que "é inquestionável" a riqueza gerada neste ecossistema por via das empresas e dos colaboradores (IVA, IRC, IRS), além do contributo fundamental na fixação de talentos em vários concelhos.
"Cada um dos parques contribui para uma significativa valorização da sua região" face às áreas de atividade mais representadas em cada um. A rede é composta por uma grande diversidade de setores de atividade, incluindo também as indústrias culturais e criativas, automação e robótica biotecnológica e inovação social.
A diversidade é grande. Por exemplo, o Régia-Douro Park, situado em Vila Real, inaugurado em 2016 para trabalhar no setor da vinha, do vinho e do agroalimentar, acolhe atualmente 80 empresas, tem 500 trabalhadores e um volume de negócios de 40 milhões/ano. Produtores de vinho estão ali a instalar armazéns, num investimento total de seis milhões de euros, que os aproxima da rede de autoestradas e contorna as restrições de construção no Alto Douro Vinhateiro, classificado como Património Mundial.
A UPTec, situada em pleno polo universitário da Universidade do Porto, é sede de empresas de áreas tecnológicas mais diversificadas, nomeadamente, no setor das tecnologias de informação e comunicação. A Sanjotec, em São João da Madeira, no coração de uma região que concentra muitas empresas ligadas aos setores da robótica e da indústria 4.0.
Exemplo internacional
O mais periférico da rede é o Parque de Ciência e Tecnologia de Bragança, o Brigantia EcoPark. Inaugurado há seis anos, o Brigantia ultrapassou as melhores expectativas. A taxa de ocupação é de 95,83%. Ao todo são 68 empresas que radicadas, mais quatro entidades (IPB, Demola North, Centro Nacional de Competência dos Frutos Secos, Colab-More Montanhas de Investigação e Secretaria de Estado para a Valorização do Interior).
No total foram criados cerca de 300 postos de trabalho qualificados, onde a média de idades anda abaixo dos 35 anos. "O Brigantia tem uma dinâmica muito interessante de crescimento e captação de novas empresas. Temos quase a lotação esgotada. O balanço é extremamente positivo", diz o presidente da Câmara Municipal de Bragança, Hernâni Dias, sublinhando que o parque tem sido apontado como "um exemplo até a nível internacional".
O Brigantia, tal como o Regia Douro, faz parte da PortusPark, associação com cerca de 30, anos e que contribui para o que tem sido o crescimento e reforço da intervenção das start-ups e spinoffs, "na modernização e valorização do tecido empresarial do Norte", vincou fonte daquela associação, sem esquecer a participação no mercado global em que grande número das jovens empresas, inovadoras e de alta intensidade tecnológica, obrigatoriamente se movimentam.
Afro Genesis - Camila faz roupa original com restos
Com desperdícios de fábricas têxteis, Camila Santos, designer de moda, faz vestuário original sob a chancela Afro Genesis, marca que criou, voltada para um público jovem e urbano que procura artigos originais.
"Era material que provavelmente iria para o lixo, mas que eu compro. São desperdícios de empresas que fazem grandes produções, às vezes ainda são rolos de tecido com muitos metros que tinham como fim a lixeira. Eu compro e faço peças novas e originais", contou.
De Vimioso para o Mundo
A jovem é natural de Vimioso, onde começou a trabalhar após a conclusão da licenciatura. No entanto, por considerar que carecia de estar numa localidade com mais oportunidades de mercado, mudou-se para Bragança e no Brigantia EcoPark encontrou as condições que procurava.
"É muito acessível em termos de renda, ajuda os empreendedores a divulgar o trabalho. É muito prático, porque na renda vem tudo incluído, nomeadamente a internet", afirmou.
Camila Santos começou a confecionar roupa ainda quando estava a estudar na Universidade da Beira Interior, na Covilhã, que vendia aos colegas africanos que procuravam vestuário feito com capuanas.
"Nessa altura, decidi juntar o estilo africano ao streetwear. Daqui nasceu o conceito Afro Genesis, que é uma marca que pretende dinamizar e fundir culturas, sempre atendendo ao uso de materiais de qualidade, design exclusivo, feito em Portugal", observou a empresária.
Vender para estrangeiro
Para já, a Afro Genesis só é comercializada através das redes sociais, mas está já a preparar um site para divulgação e venda. "Temos boa aceitação, já vendo para outros países da Europa e para os Estados Unidos da América", adiantou.
Quando se lançou no mundo empresarial com 25 anos, Camila "não percebia nada de nada de negócios e empresas", fez uma formação em Vimioso, mas arriscou. "Agora já passaram quase três anos e já vou percebendo como funciona", explicou.
Ready to Pub - Ajuda cientistas a publicar artigos
A Ready to Pub, instalada no Brigantia EcoPark, em Bragança, foi considerada, pela segunda vez consecutiva, a empresa Prestadora de Serviços Editoriais do Ano. O sucesso é inegável, tanto mais que se trata de uma nanoempresa, com um funcionário e sem instalações próprias. O proprietário, Ricardo Malheiro, antigo investigador do Politécnico de Bragança, trabalha no espaço coworking do Brigantia. Com computador, telemóvel e acesso à internet consegue fazer mais do que os grandes. Subcontrata cientistas consoante a área do investigador que ajuda: da agricultura à medicina.
Único a nível mundial
Presta um serviço "único a nível mundial", diz. Trata de todas as etapas necessárias para publicar um artigo científico. "É o Ready To Pub (Pronto a Publicar), fazemos tudo. Dou acompanhamento ao investigador desde a escrita do artigo científico, modificações de texto ou outras até à publicação. Depois, durante dois anos, mantém-se em contacto com o autor para melhorar o artigo, e asseguramos traduções profissionais", frisa.
E a procura cresce. "Cada vez há mais gente a querer publicar, mas as revistas não têm um espaço infinito e a taxa de rejeição tem vindo a aumentar. Só cabem lá os melhores, por isso chateamos constantemente o autor para que cumpra os prazos", descreveu.
A empresa foi criada em 2017 e está no Brigantia há dois anos e meio. "A ideia surgiu quando fiz a tese de doutoramento. Quando quis publicar um artigo científico o editor exigiu que passasse pelo crivo de uma empresa certificada. Enviei o meu trabalho para os EUA, a relação qualidade-preço foi excessiva", recorda. Em 2014 teve a ideia da empresa.
Primeiro cliente do Equador
Avançou com investimento próprio. O primeiro trabalho foi para um investigador do Equador. "Já prestamos serviços a 400 autores de 34 países. Fazemos workshops online, com 1099 participantes e uma avaliação de 9,3 (numa escala de 0 a 10)". A empresa vai de encontro aos requisitos do Brigantia. É inovadora, trabalha na área científica.
Escola de guitarra online - Passou de 14 para 900 alunos por ano
A covid-19 mudou a vida de Rafael Santos, professor de música, radicado em Bragança. Era proprietário de duas escolas tradicionais, com aulas presenciais, mas com o confinamento foi obrigado a fechar, ficando sem rendimento.
Para contornar o problema criou a Escola de Guitarra Online, para adultos. Arriscou tudo num projeto diferenciador, sem saber o que o esperava e qual seria a aceitação do mercado. "Temos um curso de um ano que é administrado via zoom, com mais de 160 aulas divididas por vários níveis. As dúvidas podem ser tiradas por videoconferência com os professores, sempre que for necessário e o aluno desejar", referiu.
Vários países da Europa
Desde março de 2020, quando a escola iniciou a atividade, passou de uma turma com 14 alunos para 971 e oriundos de vários países da Europa. "Trabalho aqui a partir do Brigantia EcoPark. Temos um curso definido, muito direcionado, desde o nível zero até ao cinco, para que os alunos não se percam e evoluam de forma estruturada. Estudam a partir do conforto da sua casa", explicou Rafael Santos.
Trata-se de um projeto pioneiro no país, que não se sabe até onde pode crescer. A nível internacional tem muita aceitação.
Aluno com 90 anos
"É uma possibilidade para toda a gente que deseje possa aprender música online. O nosso aluno mais velho inscreveu-se com 90 anos. Assume que está a ser difícil aprender, mas está a gostar muito. Em vez de ficar em casa sentado à espera do pouco mais que a vida lhe possa trazer, aproveita o tempo de outra maneira e sente-se realizado", acrescentou.
Os alunos só carecem de acesso à internet e se não tiverem computador, basta um telemóvel. "Podem evoluir ao seu ritmo, independentemente da idade", sublinhou Rafael Santos que encontrou no Parque de Ciência e Tecnologia um espaço com todas as condições para realizar o seu trabalho. Rafael estava habituado a lidar com cerca de 40 alunos em regime presencial. Mas o seu universo de trabalho alargou-se de maneira que não esperava. "Vamos lá ver até onde isto vai. É muito enriquecedor", garantiu.
Parques, onde estão?
A rede de Parques do Norte tem ecossistemas que são uma referência nacional. Citemos: Avepark (Vale do Ave), Science Park (Aveiro), FeiraPark (Santa Maria da Feira), Fábrica Santo Thyrso (Santo Tirso), Instituto Empresarial do Minho (Vila Verde), Instituto Empresarial do Tâmega (Amarante),Tecmaia (Maia), Moveltex (Paços de Ferreira), Test (Amarante); ou a Incubadora Regional de Inovação Social (Amarante).