Passos lamenta "cacofonia de interpretações" que se segue a decisões europeias
O primeiro-ministro lamentou esta quarta-feira que decisões tomadas no seio da União Europeia e da Zona Euro sejam seguidas de "uma cacofonia de interpretações e visões", dando como exemplo os acontecimentos na Grécia após a última cimeira europeia.
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"Se cada um fizer a sua parte tenho a certeza de que a crise das dívidas soberanas será vencida. Mas é fundamental que aquilo que decidimos, sobretudo ao nível zona euro, não seja acompanhado de uma cacofonia de interpretações e visões", afirmou.
O primeiro-ministro falava numa conferência sobre a construção europeia, que decorreu em Lisboa, e na qual participou também o primeiro-ministro do Luxemburgo e presidente da Zona Euro, Jean-Claude Juncker.
"No mesmo instante em que estamos numa abordagem muito compreensiva, a criar melhores condições de vigilância, de articulação, de coordenação económica, que nos possa proteger dos riscos de contágio e dos riscos sistémicos, não podemos ter uns quantos a dizer que esta abordagem é correta e que temos confiança que isto vai resultar e, ao mesmo tempo, vários responsáveis a pôr em dúvidas aquilo que se vai passar. Isso mina a confiança e diminui eficácia dos instrumentos" criados a nível europeu, disse Pedro Passos Coelho.
Passos Coelho recordou que no final da última cimeira europeia que aprovou uma novo plano de resgate da Grécia, viajou diretamente para a América Latina, onde passou pelo Brasil e participou na cimeira Ibero-Americana, transmitindo aos líderes daquela região um "moderado otimismo" por "finalmente haver uma decisão importante de todos os países do euro para lutar pelas economias do euro".
"Imaginem o meu espanto quando menos de 24 horas depois tudo tinha regressado a uma situação pior do que na véspera do encontro que tinha sido marcado para resolver um problema que já antes parecia dramático", acrescentou, numa referência ao anúncio do governo grego de ter a intenção de referendar as medidas aprovadas em Bruxelas no dia anterior, decisão que acabou por não avançar.
Passos Coelho considerou que o "caminho é extremamente incerto e delicado" e que o sistema europeu "como foi construído, e como ainda está em construção, é muito vulnerável". Porém, acrescentou, a única solução é percorrê-lo cumprindo cada um dos países os objetivos assumidos a nível europeu e, por outro lado, criando a União instrumentos que ajudem a restabelecer a confiança dos mercados em relação a alguns países.
"Se tivéssemos de estar à espera de grandes alterações ao Tratado [Europeu] e às regras isso não ajudaria" a criar confiança, defendeu o primeiro-ministro, acrescentando: "Temos mesmo, nos limites das regras que temos, às vezes recorrendo a construções ao lado daquelas que são as institucionais, de ir criando mecanismos suficientemente convincentes para que todos acreditem que vamos sair desta situação".
O primeiro-ministro reiterou ainda que Portugal fará a parte que lhe compete, cumprindo as metas fixadas no acordo da ajuda externa, e defendeu que a proposta de Orçamento do Estado para 2012 que o Governo enviou à Assembleia da República "é o instrumento certo para garantir" que o país não falhará esses compromissos.
"O pior que podia acontecer era confundir a incerteza e a imprevisibilidade [do contexto actual] com qualquer laxismo ou relaxamento no trabalho que temos de fazer. Quanto mais incerto for o contexto mais relevante se torna atingir objetivos a que nos propusemos, mostrar que não temos nenhuma dúvida do caminho a percorrer", acrescentou.