O presidente da Associação Industrial Portuguesa, José Eduardo Carvalho, defendeu esta terça-feira que é preciso corrigir "os três pecados originais do programa de ajustamento" financeiro de Portugal, bem como reduzir os custos salariais e fiscais das empresas.
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José Eduardo Carvalho, que falava na cerimónia do 176.º aniversário da AIP, em Lisboa, disse, aos jornalistas à margem da iniciativa, que "há uma grande rigidez nos custos" das empresas, sublinhando, por exemplo, que "é impensável haver uma redução dos custos de eletricidade nos próximos anos".
Quanto aos custos salariais, José Eduardo Carvalho destacou uma divergência entre aquilo que é permitido ao Estado e às empresas em matéria de redução salarial.
"Aquilo que é permitido ao Estado - que é reduzir custos salariais - não é permitido às empresas. Não defendemos isso de forma generalizada, mas, em processos de reestruturação e quando há acordo com os trabalhadores, tem de se arranjar forma de isso acontecer", explicitou.
"É difícil negociar acordos de redução de salários nem que seja temporária", disse ainda o dirigente, reiterando que "preciso trabalhar" pelo lado dos custos salariais, mas também fiscais.
Questionado sobre se a redução da Taxa Social Única (TSU) pode ser uma solução, o presidente da AIP disse que essa medida "não é a solução milagrosa para o problema, mas ajuda a provocar um choque de competitividade".
José Eduardo Carvalho referiu ainda que, tendo Portugal a segunda maior taxa nominal de impostos sobre o rendimento das empresas, "Portugal perde atratividade fiscal e vai ter dificuldade em captar investimento", pelo que - defendeu - é fundamental encontrar uma solução.
Para o presidente da AIP, urge combater "os três pecados originais do programa de ajustamento" financeiro de Portugal: "o processo de desalavancagem do sistema financeiro", que deve ser "mais suave" para não ter tanto impacto no tecido empresarial.
Nesta matéria, José Eduardo Carvalho referiu que o stock de crédito às pequenas e médias empresas (PME) teve reduções de 9.000 milhões num ano, o que "é muito significativo".
O segundo "pecado original" do programa, defende o presidente da AIP, é a ausência de um "processo específico de recapitalização das empresas", à semelhança do que se fez para a banca.
"O capital social de 90% das PME [Pequenas e Médias Empresas] não suporta o pagamento de duas semanas de um diretor comercial na China", argumentou.
Finalmente, acrescentou o líder da AIP, é necessário "conciliar a consolidação orçamental com choques de competitividade", pelo que é preciso debater "como é que uma economia como a portuguesa, com uma taxa de câmbio sobreavaliada e com câmbios fixos, consegue crescer".