A crise chegou ao microcrédito. Não por falta de dinheiro, mas pelo pessimismo, traduzido na descida do número de pedidos de financiamento de projectos face a 2009. Esta situação é notada tanto pela rede autónoma de microcrédito do BCP como pela associação que gere este apoio financeiro.
Corpo do artigo
Um maior receio em arriscar é uma das justificações que Helena Mena, responsável pela operação de microcrédito do BCP encontra para que em 2010 esteja a verificar-se uma descida do número de projectos de microempreendedores. A mesma tendência tem-se também verificado no montante médio pedido: em 2009, o valor médio do microcrédito concedido rondou os 10 mil euros, este ano está nos 7 mil euros.
Esta quebra, que ocorre num ano em que o desemprego persiste na casa dos dois dígitos, não se deve a qualquer dificuldade no acesso ou na disponibilização do crédito, mas apenas porque tem sido menor o número de microempreendedores a avançar com projectos para criarem o seu próprio emprego ou negócio.
O recurso ao microcrédito - que apoia quem que de outra forma não teria acesso a crédito - tem sido uma solução para muitas pessoas nos últimos anos. Só no âmbito da rede autónoma do microcrédito do BCP - que ontem comemorou 5 anos e assinalou a data com o lançamento de uma página no Facebook -, desde 2005 foram assessorados 1509 projectos, que deram origem a 2290 postos de trabalho e envolveram 13,8 milhões de euros.
Daquele total, 198 são de 2010 (abaixo dos mais de 300 registados em 2009), entre os quais se conta a barbearia "Lusitana" de Rui Baptista, um microempreendedor que promete não ficar por aqui.
Além da sua rede autónoma, o BCP tem também protocolo com a Associação Nacional de Direito ao Crédito (ANDC), financiando por isso os projectos de microcrédito que lhe chegam através desta associação.
E na ANDC (que tem ainda protocolos com o BES e CGD), os dados de 2010 reflectem igualmente alguma retracção por parte dos potenciais microempreendedores. Ao longo de 2009, foram creditados 228 projectos, um número acima dos 114 negócios desenvolvidos entre Janeiro e Outubro deste ano. Maior receio em arriscar e avançar com o seu próprio negócio é também o motivo que o secretário-geral da ANDC avança para explicar esta menor procura, ainda que José Centeio deixe o aviso de que muitas vezes esta indecisão pode ainda piorar a situação das pessoas.
Com ou sem crise, há alguns factores que se mantém: quem mais procura o microcrédito continuam a ser as mulheres e a maioria aposta no sector do comércio. E a taxa de sucesso destes projectos mantém-se em valores superiores a 85%.