Agosto não vai esgotar a hotelaria no Sul, que conta ocupar metade dos quartos no melhor cenário. Alojamento local cresce mais no interior, mas o número de unidades é apenas 10% da oferta.
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Foi o pior julho de sempre para a hotelaria algarvia, com 15 a 20% das unidades encerradas, e em agosto pouco vai melhorar. Até no alojamento local, a esperança é que "o fim do verão dê para pagar algumas contas". Ainda não há recuperação no horizonte.
Junho trouxe água do mar mais quente do que o habitual, mas os hoteleiros levaram um balde de água gelada no Algarve: a ocupação ficou em 10,7%, com quebra de 81,2% nas vendas, o que contribuiu para o acumulado de perdas de 49,6% desde janeiro (menos 214 milhões de euros face a 2019).
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Impacto do Reino Unido
"Em julho, estimamos ter quebras de 60 a 70%", antecipa Elidérico Viegas, presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve. Só o levantamento das restrições do Reino Unido poderá desanuviar as perdas deste verão, desabafou.
Já em agosto, os hoteleiros preparam-se para uma quebra de 50 a 60%, o que significa taxas de ocupação de 40 a 50%. Nem no pior ano da crise e das últimas décadas, em 2011, agosto esteve abaixo de 88,4%.
Cristina Siza Vieira, vice-presidente da Associação da Hotelaria de Portugal, admite que "inicialmente, as expectativas para o mês de julho eram razoáveis, e até começavam a existir reservas", mas o confinamento em Lisboa e a decisão do Reino Unido levaram a "uma quebra maior do que o esperado". No Algarve, estima, a ocupação ficou por 30% a 50%.
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Os hoteleiros continuam à espera do plano de recuperação para o turismo prometido pelo Governo para o Algarve. A continuação do lay-off simplificado, políticas de apoio ao emprego com subsídios aos trabalhadores ativos e de formação profissional, o alargamento das moratórias bancárias e fiscais e linhas de crédito específicas seriam "o mínimo". Elidérico Viegas receia que "o regresso a alguma normalidade só aconteça em 2021, mas nem é logo na primavera, porque ainda vai demorar a recuperar".
No alojamento local, o cenário não é muito melhor. Os dados cedidos ao JN pela Airdna, a ferramenta de análise de negócio do Airbnb ou do VRBO (ex-Homeaway), revelam que, em junho, a ocupação chegou a 47% em Altura, mas não passou de 30% em Lagos, por exemplo. Para agosto, há algumas reservas, especialmente para as zonas tradicionalmente preferidas pelos portugueses: ontem, Altura estava com 76%, a Guia com 54%, Faro com 49%, Lagos com 43% e Portimão com 39%.
Muitos cancelamentos
Ainda enfrentamos muitos cancelamentos", revela Eduardo Miranda, presidente da Associação do Alojamento Local em Portugal. "O Algarve costumava ter 90% de ocupação, está a menos de metade [40%]", estima. Sem voos suficientes, sem estrangeiros, só mesmo "os nacionais arriscam ir de férias, porque conhecem o país e as regras".
Muitos estão a procurar zonas menos povoadas (Bragança, Guarda, Évora, Beja e Elvas estão a crescer, segundo a Airdna), mas a oferta de imóveis nesses locais "representa menos de 10% do alojamento local no país".
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Elvas a subir
Das cidades do interior no Airdna, Elvas foi a que mais aumentou a ocupação em junho (+76%), ainda que a taxa global tenha ficado em 37%. Sobe para 39% em agosto e os preços sobem, de 95€ (2019), para 104€, em média.
Beja passa Faro
Os indicadores de reservas do Airdna para agosto mostram Beja ocupada a 68% e Faro a 49% ontem. A tarifa média nesse dia era de 112€ em Beja (+2€ do que em 2019) e de 107€ em Faro (menos 21€ do que em 2019).
Turistas no interior
O alojamento local em Bragança vai estar ocupado a 50% no início de agosto e a tarifa média reservada conseguiu subir, de 78€ em 2019, para 82€. Na Guarda, 40% dos alojamentos estavam reservados ontem e a tarifa média subiu de 75€ para 82€.
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225 euros tarifa reservada
Na Guia, os hóspedes estão a reservar a tarifa mais elevada de agosto (Airdna), menos que em 2019 (238€).
522 mil hóspedes
Em junho do ano passado, o Algarve recebeu pouco mais de 522 mil hóspedes na hotelaria. Este ano, no mesmo mês, recebeu 13 249.