Álvaro Santos Pereira, economista e professor da Simon Fraser University, no Canadá, respondeu a três perguntas do JN sobre o custo dos feriados e pontes e a imagem que o país deixa transparecer para o exterior.
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O Governo concedeu tolerância de ponto aos funcionários públicos para a tarde de amanhã, véspera da sexta-feira de Páscoa. Serão quatro dias e meio de paragem para os trabalhadores do Estado, numa altura em que a "troika" de negociadores do FMI, Comissão Europeia e BCE estão em Portugal.
É possível medir o impacto económico de um feriado (quanto a economia perde)?
Sim, é possível. Assim como é possível estimar os custos de eventos extraordinários, como sejam as greves gerais. Segundo algumas estimativas, o custo dos feriados está entre 40 e 50 milhões de euros. E, como é óbvio, este custo aumenta se houver "pontes" e/ou tolerâncias de ponto no Estado. Como há 14 feriados em Portugal e mais 2-3 "pontes" por ano, o custo total ronda anualmente os 680 e 850 milhões de euros. Porém, um cálculo mais relevante é compararmo-nos com os países mais avançados da Europa, que têm entre 8 e 10 feriados por ano e onde não há "pontes" (pois os feriados são encostados aos fins-de-semana). Se o fizermos, verificamos que os feriados que usufruímos a mais em relação à Europa têm um custo adicional entre os 300 e os 450 milhões de euros.
Considera que Portugal devia abdicar pelo menos destas pontes oficialmente concedidas pelo Governo aos trabalhadores do Estado?
Claro que sim. Pelo menos a maior parte delas. Estas "pontes" e tolerâncias de ponto só têm um objectivo: agradar eleitores e potenciais votantes. Contudo, não fazem qualquer sentido no mundo actual e muito menos numa altura de grande austeridade.
O nosso país é visto no estrangeiro como sendo pouco produtivo?
Infelizmente, a percepção que existe no estrangeiro é exactamente essa. E o descalabro das finanças públicas e a espiral de endividamento dos últimos anos não ajudam nessa mesma percepção. Muito pelo contrário. Portugal tem uma enorme falta de credibilidade neste momento. É lamentável que tal aconteça, pois não só porque, até recentemente, Portugal foi das economias europeias com mais sucesso nos últimos 50 anos, mas também porque nós temos alguns sectores bastante dinâmicos e produtivos. A actual imagem do país é que não ajuda muito.