Lisboa, Porto, Cascais e Oeiras foram os municípios onde os rendimentos menos recuperaram no período após pandemia.
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Alguns dos municípios mais populosos, nomeadamente Lisboa, Porto, Cascais, Oeiras, Faro e Almada, foram os que menos conseguiram recuperar da pandemia, usando como referência o “valor mediano do rendimento bruto anual declarado deduzido do IRS liquidado por sujeito passivo” e a respetiva variação deste indicador entre 2019 (último ano antes da pandemia e da crise que se seguiu) e 2022, mostram cálculos do JN/DV com base nos dados ontem divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
De acordo com as novas estatísticas, aquele rendimento mediano por contribuinte (o valor que está exatamente ao meio da distribuição de rendimentos, dos mais baixos aos mais elevados), subiu em todos os cerca de 300 concelhos analisados pelo INE (não foram analisados todos os 308 municípios): face a 2019, os dez aumentos de rendimento mais fracos aconteceram em Odivelas, Entroncamento, Amadora, Barreiro, Lisboa, Porto, Marinha Grande, Faro, Loures e Setúbal, por esta ordem, começando em 6% e terminando em 7,8%, em termos nominais, e já depois do acerto do IRS. A média nacional foi bem superior, cerca de 12% entre 2019 e 2022.
Desigualdade
No entanto, cruzando estes ritmos de recuperação de rendimento por contribuinte mediano com o indicador de desigualdade do INE, torna-se claro que muitos destes concelhos que ficaram na mó de baixo são também os mais desiguais. É o caso de, como referido, Lisboa, Porto, Cascais, Oeiras, Faro e Almada, municípios onde o índice de desigualdade (Gini) é o mais elevado entre os 300 territórios analisados, situando-se todos bem acima da média nacional.
O INE explica que “o coeficiente de Gini é um indicador de desigualdade na distribuição que visa sintetizar num único valor a assimetria dessa distribuição”. Assume valores entre 0% (quando todas as pessoas têm igual rendimento) e 100% (quando todo o rendimento se concentre numa única pessoa).
Lisboa lidera pelos piores motivos: com uma subida de rendimento mediano de 7% desde a pandemia, o concelho aparece como o mais desigual do país, com um fator de Gini de 42,5%, muito acima da média nacional (35,7%), segundo o INE.
Logo a seguir, o Porto: também logrou uma atualização de rendimentos das mais baixas a nível nacional, na ordem dos 7%, sendo um território onde o grau de desigualdade também é dos piores do país (Gini de 41,8%).
Foram possíveis estes aumentos (todos os municípios registaram ganhos nominais no rendimento por contribuinte) porque, depois da pandemia, o ano de 2022 também foi atípico, com a chegada da guerra e da inflação, o que acabou por empolar os níveis salariais e de outros rendimentos, por força das medidas tomadas pelo Governo para amortecer o embate da subida agressiva dos preços.
Referências
19 concelhos
Pelas contas do JN/DV, ao todo, dos 300 concelhos analisados, em 19 a recuperação nominal não chegou para cobrir a inflação (que neste período superou 9%, em termos acumulados). Os piores casos são Odivelas, Entroncamento, Amadora, Barreiro, Lisboa e Porto.
70 municípios
Em 2022, o valor mediano do rendimento bruto declarado deduzido do IRS liquidado por sujeito passivo foi 10 679 euros. 70 municípios apresentaram valores superiores à referência nacional.