Em 2015, apesar de os empréstimos serem mais fáceis de conseguir, ritmo diário era de apenas 13 milhões de euros.
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Os bancos emprestaram aos portugueses, entre janeiro e final de julho, uma média de 20 milhões de euros por dia só para consumo, num total de 4,25 mil milhões de euros desde o início do ano. Em 2015, primeiro ano em que a economia voltou a crescer ao nível pré-crise (2010), o ritmo de novos créditos rondava os 13,2 milhões de euros diários ou 2,8 mil milhões em sete meses.
O custo do dinheiro tem-se mantido baixo - em 2015, a taxa de juro média para um crédito ao consumo era de 6,81%, valor que desceu até aos 6,23% de 2018 e só este ano subiu ligeiramente para 7% em julho. E os bancos têm sido mais agressivos nas campanhas de crédito, oferecendo condições competitivas, apesar das restrições impostas pelo Banco de Portugal. Em julho do ano passado, o regulador "recomendou" que a taxa de esforço do total de créditos ao consumo não ultrapassasse 50% dos rendimentos ao longo de toda a vida do empréstimo, inclusive num cenário de subida de até três pontos percentuais dos juros ou entrada do cliente na reforma. No entanto, os novos créditos não abrandaram devido às regras mais apertadas.
Os portugueses parecem ter aprendido algo na crise, visto que há menos incumprimento e endividamento das famílias.
Segundo os dados mais recentes, em julho os particulares registaram uma diminuição do endividamento face à Banca de 10 milhões de euros, para um total de 141 946 milhões de euros (antes da crise, em junho de 2010, deviam 152 858 milhões de euros). Além disso, o rácio de créditos vencido era de 7,1% para o consumo, o que compara com 7,9% no valor homólogo de 2010, antes da crise e com níveis de endividamento superiores. Estes são sinais positivos, mas ainda podem esconder problemas: o endividamento dos cartões de crédito não é contabilizado nas taxas de esforço. Quando os consumidores pedem ajuda à Deco, a taxa de esforço média é de 72,5%.
Instabilidade laboral
"Muitos dos consumidores que recorrem à Deco têm créditos que são recentes, de 2018 ou deste ano. Correspondem a cartões de crédito ou a crédito revolving" [pagamentos faseados, ficando o valor novamente disponível para o cliente gastar a crédito], revelou Natália Nunes, coordenadora do Gabinete de Proteção Financeira da Deco.
O número de sobre-endividados que pedem ajuda à Deco tem-se mantido estável, mas os motivos estão a mudar. "O desemprego perde peso para a precariedade laboral, onde os contratos a termo e os salários baixos são motivo de dificuldades. A penhora de rendimentos, que já vem do tempo da crise, também continua a ter um peso muito grande nas famílias", explicou.
Incumprimento
Há menos fiadores e risco também diminuiu
Um valor que tem vindo a diminuir sistematicamente a cada trimestre nos relatórios do Banco de Portugal é o número de pessoas que são fiadoras em contratos de crédito. Eram 1,304 milhões no final de junho deste ano, menos nove mil do que em junho do ano passado ou menos 21 mil do que em junho de 2017. E o valor que foram chamados a pagar também tem vindo sempre a descer: 74,8 milhões de euros este ano, comparando com 86,6 milhões em junho de 2018 ou 102,5 milhões no mesmo mês de 2017.