Taxa de poupança das famílias chegou a níveis elevados, mas quase metade do dinheiro não esteve a render e perdeu valor. Juros baixos nos depósitos justificam investimentos mais arriscados que podem ter melhores remunerações.
Corpo do artigo
A poupança das famílias atingiu, no ano passado, o valor mais elevado desde o início do século (2003), mas aquelas economias não foram inteiramente aplicadas de maneira a render. Em 2020, 73,5 mil milhões de euros estiveram parados em contas à ordem. Só a inflação (0,6% em abril face ao mesmo mês de 2020) faz aquele montante valer menos 450 milhões de euros em 2021. Para que o mesmo não aconteça ao reembolso do IRS, os especialistas recomendam que se aplique o dinheiro onde ele possa crescer, em vez de desaparecer.
"O medo levou as pessoas a deixar o dinheiro na conta à ordem, principalmente por haver poucas oportunidades de investimento atrativo", explicou Ricardo Cunha, docente e diretor do Mestrado em Finanças da Católica Porto Business School.
Em 2003, a taxa de poupança das famílias era semelhante à de 2020 (12,8%), contudo a taxa de juro média dos depósitos a prazo era superior a 2% e, no ano passado, ficou-se pelos 0,11%. As perspetivas económicas não são ideais para investimentos lucrativos para o cidadão comum, uma vez que as taxas de juro deverão manter-se baixas para estimular a economia na recuperação pós-pandemia. Para quem tem um perfil conservador e não vai precisar do dinheiro durante algum tempo, os produtos clássicos deverão permitir escapar ao efeito da inflação sobre o dinheiro parado - planos poupança reforma, certificados de aforro ou títulos de dívida, assim como alguns seguros de capitalização comercializados por companhias de seguros.
"Não é igual o investimento ou a poupança feita por um jovem sem encargos, por um adulto com filhos ou por um trabalhador perto da idade da reforma. Têm objetivos e perfis de risco diferentes", alertou o especialista.
Arriscar ou amortizar
Mesmo entre os produtos com capital garantido, aconselhou Ricardo Cunha, "há produtos alternativos, como os ETF [fundos que acompanham a evolução de um índice bolsista, ações ou outros fundos], que têm tido bom rendimento com a vantagem de terem menos custos em comissões". Entre outros produtos com bom rendimento, embora seja algo volátil, estão as criptomoedas. "Como em todos os investimentos, só são aconselháveis enquanto ferramenta de diversificação e na medida em que forem entendidos por quem investe", alerta.
Quando as taxas de juros dos créditos também estão em níveis historicamente baixos, outra opção para aplicar o reembolso do IRS pode passar por "amortizar dívida antiga, paga com juros elevados, ou trocá-la por dívida nova", com juros mais baixos. "Com as taxas de juro que encontramos em alguns créditos, de 20% e mais, pagar essa dívida hoje vai render mais do que aplicar o mesmo valor em depósitos a prazo", exemplificou Nuno Rico, economista da Deco (ler mais ao lado).
Onde é possível aplicar o reembolso do IRS
Contas: remuneração em prazos curtos
Alguns bancos oferecem a novos clientes depósitos de curto prazo (três ou seis meses) com taxas acima da média.
Certificados: seguro, mas lento
Os certificados de aforro ou do tesouro são garantidos pelo Estado com alguma remuneração. São interessantes se os mantiver durante dez anos.
Seguros: capitalização e mais
Algumas seguradoras têm produtos com capital garantido e rendimento mínimo.
PPR: benefícios fiscais
Os Planos Poupança Reforma dão benefícios fiscais e quem arriscar não ter capital garantido tem mais rendimento.
Fundos de participação: jogar sem preocupações
Fundos ETF ou de participação permitem jogar em bolsa deixando que alguém trate de tudo. Geralmente, rendem em prazos mais longos.
Criptomoedas: arriscar para ganhar
Só aconselhável a quem entender o que são e como funcionam, disposto a arriscar todo o valor disponível.