Setor em dificuldades distribuiu uma tonelada por 50 instituições sociais de quatro concelhos.
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Devido à pandemia e às restrições impostas aos restaurantes, a venda de carne de bovino de raça maronesa caiu até 85%. Para dar visibilidade ao problema e movido por um espírito solidário, um conjunto de produtores doou mil quilos, no valor de cinco mil euros, a 50 instituições particulares de solidariedade social (IPSS) dos concelhos de Vila Real, Mondim de Basto, Vila Pouca de Aguiar e Ribeira de Pena, onde a raça autóctone tem mais expressão.
"Estamos à espera que nos retirem os vitelos e não há quem os compre", desabafa Mário Queirós, um dos maiores criadores de maronesa e que vive no Bilhó, concelho de Mondim de Basto. "Está a ser difícil suportar esta situação e eu só vivo disto", acrescenta António Moutinho Ferreira, criador em Souto, Vila Pouca de Aguiar, onde tem uma centena de vacas reprodutoras a viverem ao ar livre nas encostas do Alvão.
"É impossível criar os vitelos, mantê-los na exploração para além dos oito meses de vida", explica António Moutinho. Para além de a partir daquela idade já não poderem ser certificados como carne com denominação de origem protegida (DOP), entretanto também começaram a nascer outros vitelos e precisam de ocupar o lugar daqueles nas tetas da mãe.
A comercialização da carne de raça maronesa é exclusiva da Cooperativa Agrícola de Vila Real. A responsável comercial, Marília Olhero, destaca que a quebra nas vendas situa-se entre "85% e 90%". Só consegue vender "cerca de 15% daquilo que se vendia o ano passado". Como "os produtores precisam de muita ajuda", a cooperativa está a tentar manter o preço pago aos cerca de 400 criadores que ali entregam a carne, mas reduziu em "cerca de 50 cêntimos" o preço de venda aos consumidores.
Os vitelos que são vendidos com DOP e são muito apreciados pela restauração "não têm grande aceitação do mercado convencional [talhos]", pelo que para conseguirem escoar alguma produção "é preciso baixar o preço e perder rendimento".
Avelino Rego tem 30 vacas em Alvadia, Ribeira de Pena. Assume que tem estado a vender "diretamente para talhos", mas não tem outro remédio senão "aceitar o preço que eles podem pagar" e que é mais baixo que o pago pela cooperativa (5,35 euros por quilo). E nem pode levar a mal, pois "como o grande público não tem muita noção de que a carne não é toda igual, o talhante também não pode acrescentar o valor merecido pela maronesa".
Avelino ainda conseguiu vender cada quilo por "cinco euros", mas diz ter colegas que apenas alcançaram "4,5 euros por quilo", o que tem "grande impacto num negócio que vive de contas sempre justas".
VALES POR CARNES OU SERVIÇOS
O projeto Terra Maronesa, em Vila Pouca, que visa valorizar o território e a carne certificada, realizou a campanha solidária nas 50 IPSS. "Quisemos promover na sociedade uma procura mais direta por este produto, tanto na cooperativa como em talhos e restaurantes, mas também ajudar os lares que estão a passar uma situação difícil", adianta Duarte Marques, um dos responsáveis. Uma outra campanha terá vales de compras que "podem ser trocados por carne, refeições ou turismo". O objetivo é ajudar a pagar o trabalho dos criadores, agentes turísticos e comunidades em prol do território".