Quebra de vendas na origem, mas também devido a dificuldades de certificação. Quase não se vendem cabritos para a Páscoa.
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Apenas 10% da produção com Denominação de Origem ou Indicação Geográfica Protegida (DOP e IGP) está a ser colocada no mercado, o que implica que 90% é comercializada por canais de distribuição indiferenciados, a preços mais baixos. Estimam-se prejuízos de milhões de euros e há explorações a ter de fechar.
O cenário catastrófico é previsto pela Federação Nacional das Associações de Raças Autóctones (FERA) que aponta como obstáculos não só "a paralisação do mercado nacional, do turismo e das exportações", mas também as dificuldades de certificação dos produtos, nomeadamente as carnes, cujo processo obedece a normas de produção como a idade de abate dos animais. Por exemplo, no caso do leitão é de 28 dias e nos bovinos de raça Mirandesa menos de 300. "Os produtores cumpriram as regras e não vão usufruir da certificação", explicou Nuno Paulo, responsável pelo Agrupamento de Produtores de Bovinos de Raça Mirandesa. Desde que se entrou no contexto da pandemia Covid-19 neste agrupamento passaram de 1430 clientes ativos para 19.
Espanha vende mais barato
Espanha está a vender carne a preços muito baixos, fazendo uma concorrência feroz. O problema é transversal a todas as raças autóctones portuguesas. Adérito Vaz, da Associação Nacional de Caprinicultores de Raça Serrana, com 80 sócios a entregar a produção na cooperativa, confessa que vivem tempos de "angústia". A produção de cabrito e de queijo não tem escoamento. "Não há clientes", afirmou. Por ano, vendiam cerca de 5000 cabritos, mas este ano praticamente não têm encomendas para a Páscoa. "Uma grande superfície comprava uns 500 cabritos todos os anos nesta altura, mas este ano ainda não fez nenhuma encomenda", lamenta. A redução nas vendas de queijo é igualmente "drástica". "Vendíamos 700 queijos por semana e na semana passada só vendemos 15", indicou Adérito Vaz. A associação vai manter a recolha de leite enquanto tiver capacidade de armazenamento, depois, os produtores terão de arranjar solução.
A FERA admite que "infelizmente muitos poderão correr o risco de falência, se esta situação durar por mais de um trimestre", deu conta Rui Dinis.
Menos abates
A Associação Mirandesa tem 500 animais a passar a idade de abate com certificação. Nas duas primeiras semanas de março abateram 104 animais. Desde 15 de março, baixaram para 16
Feiras canceladas
Para agravar a situação dos produtores de raças autóctones, as feiras nacionais, como as de Santarém e de Beja, estão a ser canceladas.