Número de processos decretados nos tribunais no primeiro trimestre deste ano é já mais do triplo do registado em 2007 e só agora começaram a acabar algumas moratórias.
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As insolvências de particulares representam perto de 80% de todos os processos do género decretados pelos tribunais e mais do que triplicaram, no primeiro trimestre deste ano em comparação com 2007, o primeiro ano em que começaram a ser registadas estatísticas. A preocupação é que a tendência seja de agravamento, e também por isso foram estendidas, até setembro do próximo ano, as moratórias de crédito, cujo prazo de adesão termina hoje.
Nem todos estão abrangidos. Empresas como a Cofidis, a Oney ou a Cetelem recusaram a extensão sugerida pela Associação de Instituições de Crédito Especializado, colocando sob pressão os clientes.
As insolvências das famílias têm vindo a crescer, nos últimos anos, e passaram a representar mais processos do que os das empresas, chegando a ultrapassar 80% no final do ano passado.
O valor manteve-se perto de 77% no primeiro trimestre deste ano e o receio é que, desde o início da pandemia, tenha continuado a aumentar. As insolvências de empresas já dispararam 64,5% em agosto.
Crédito em alta
Por outro lado, o desemprego crescente, o elevado recurso ao "lay-off" e as próprias moratórias concedidas devido à diminuição de rendimentos, não travaram a apetência de muitas famílias pelo crédito ao consumo.
A lei das moratórias, aliás, não impede que os beneficiários peçam novos créditos. Ou seja, os consumidores que deixaram de pagar a casa ou o carro e outros créditos durante um ano (ou mais, com as extensões que foram sendo concedidas) podem pedir novos créditos para trocar de carro ou ir de férias.
Em julho, os valores concedidos por bancos e financeiras em crédito automóvel atingiram máximos do ano (282,5 milhões de euros). O crédito ao consumo disparou para 537 milhões de euros e os cartões de crédito emprestaram 73,5 milhões de euros.
A dúvida é se estas prestações vão ser excessivas quando se somarem às que estão suspensas pelas moratórias ou se o país terá, em breve, uma "epidemia" de insolvências.
A EDP revelou, há dias, que 78 mil famílias foram autorizadas a pagar as contas de luz e gás em prestações, entre março e final de agosto. No entanto, os serviços essenciais podem tornar a ser cortados por falta de pagamento a partir de amanhã e a verdade é que as moratórias de crédito não terão sido um alívio suficiente para aquelas famílias liquidarem as faturas em atraso.
Em outubro também regressam as prestações de créditos até agora ao abrigo de moratórias junto de instituições de crédito como a Cofidis, a Cetelem ou a Oney. Estas empresas não aderiram à extensão da moratória privada da Associação de Instituições de Crédito Especializado, por motivos que não quiseram divulgar.
O JN apurou que existe preocupação com as dívidas que os clientes possam ter acumulado durante o período das moratórias. Contudo, espera-se que a retoma das prestações poderá travar novos créditos, antes que as famílias se fiquem sobreendividadas.