Depois dos fogos e da seca, 2020 chegou com a pujança do setor, que está em franco crescimento. Só a Estrelacoop pode vir a encaixar, este ano, cerca de 2,4 milhões de euros.
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Este ano, há queijo serra da Estrela em abundância para "alimentar" as feiras do setor, que geram um negócio cada vez mais lucrativo. Trata-se de uma indústria em crescimento, ainda que a produção de animais passe por dias difíceis. Uma das maiores cooperativas da região, a Estrelacoop, prevê este ano mais encomendas. Segundo o presidente, Júlio Ambrósio, estima-se a produção de cerca de 200 toneladas de queijo, o que equivale a um encaixe financeiro de cerca de 2,4 milhões de euros. Só naquela instituição.
Por isso, as feiras do queijo servem de montra para um produto cada vez mais apetecido. Tal como o fumeiro, o setor está a expandir-se.
Depois de os incêndios e a seca terem destruído pastos (e matado animais) nos últimos anos, forçando uma descida da produção de leite, este ano os pastores respiram de alívio. "Foram repostas, com a ajuda de vários parceiros, cerca de 1500 ovelhas. Faltam mais 300 que em breve serão entregues aos pastores", adiantou, ao JN, o presidente da Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Serra da Estrela, Manuel Conceição Marques. A associação tem por objetivo o melhoramento genético e a defesa da raça de ovelha da serra da Estrela (bordaleira) e churra-mondegueira, espécie confinada a um pastor com 150 unidades.
A Cooperativa de Produtores de Queijo Serra da Estrela fala num aumento de produção de matéria-prima na ordem dos 10%. "Este ano, há leite em abundância e os produtores estão claramente mais satisfeitos. Contudo, o inverno com chuva só veio em dezembro", indica Célia Henriques, técnica da associação com 60 associados, instalada em Celorico da Beira, um dos municípios da Região Demarcada de Produção de Queijo Serra da Estrela, que se estende pela bacia hidrográfica do Alto Mondego e engloba 18 concelhos.
Nascido num complexo socioeconómico de características específicas e muito particulares, como é a serra da Estrela, o seu queijo é o resultado de muitos esforços de geração e constitui o produto nobre da pastorícia da região.
Novidades
Na "Tapada das Sortes" já se trabalha para o próxima festa do queijo, em Alcains. Jorge Silva e a mulher decidiram criar duas novidades: "Caganitas de Ovelha", um queijo em miniatura, e o "Dano", com 120 litros de leite de ovelha, 12 meses de cura e 14 quilos de peso. "Temos de manter a essência do queijo da região, a tradição é garantida. Mas podemos inovar e com isso fazer a diferença", explica Jorge Silva, que trabalha a tempo inteiro na empresa com uma funcionária. "O nosso queijo XL é muito procurado, é vendido à fatia e poderia produzir mais se houvesse mais fornecimento de leite", sustenta o produtor.
Na queijaria são produzidos queijos de ovelha certificados, de mistura e de cabra e, por estes dias, a produção está ao rubro. Ali chegam cerca de 50 mil litros de leite por ano, que dá cerca de 10 mil queijos de ovelha e cabra. "A venda aumenta pelo Natal, Páscoa e verão. Os emigrantes são fiéis aos sabores do antigamente", adianta o produtor, que tem participado nas feiras da região de Castelo Branco. "Servem sobretudo para conversarmos com o cliente. Não é tanto pela venda, embora seja importante", diz.
Os idosos estão a desfazer-se dos rebanhos
A renovação dos pastores é, atualmente, o maior desafio do setor de produção de leite. Na exploração de Rogério Melo, em Vila Velha de Ródão, não há mês em que não lhe bata à porta um idoso propondo a entrega de gado.
"Os idosos estão a desfazer-se dos rebanhos. O último que me apareceu foi um senhor com uma ovelha no carro. Queria entregar-me o animal na troca de um borrego. Aceitei mais por pena", recorda o pastor, que também é aluno da Escola de Pastores.
A criação da Escola de Pastores integra-se no projeto "Programa de Valorização da Fileira do Queijo da Região Centro". Uma ideia pioneira, dirigida sobretudo aos mais jovens, que no final do curso têm à espera uma bolsa de cinco mil euros para começar a atividade de pastor na região.
Na primeira Escola de Pastores inscreveram-se 150 pessoas, mas só cerca de 30 homens e mulheres foram apurados e divididos por duas turmas: uma em Castelo Branco e outra em Viseu. O período de aulas em sala terminou em dezembro e, neste momento, os alunos estão em estágio em explorações de gado.
"Aprendi algumas coisas úteis, como o reforço da higiene nos espaços", conta Rogério Melo, que confessa: "Inscrevi-me mais para conseguir o cheque-vale do projeto, mas já me disseram que o regulamento estipula que os apoios estão dirigidos a quem queira criar uma exploração e não a quem já a tenha, como é o meu caso, que estou na atividade porque o meu pai já o fazia", conta. "Os professores estão a tentar que essa situação, que me parece injusta, seja resolvida", acrescenta.
Acordar cedo
Ser pastor é não ter horários. Nas primeiras horas de luz da manhã, Rogério Melo, 35 anos, faz a ordenha das ovelhas. O leite do rebanho de 150 animais é escoado para uma queijaria DOP de Castelo Branco.
"Este ano, estamos a produzir um pouco mais do que no ano passado. Existem boas pastagens. Dada a procura pelo leite, vamos até aumentar o rebanho", adianta o pastor, que fornece cerca de 60 litros de leite por dia para a produção de queijo.v c.d.