Casas para várias gerações de compradores e outras oportunidades de negócio na mira de interessados gauleses. Porto ultrapassou Lisboa como a cidade mais atrativa para transações.
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As agências de origem francesa ligadas a negócios imobiliários estão a apostar forte em Portugal. A estratégia passa por atrair reformados que pretendam imóveis próprios ou arrendados para viver em permanência, nómadas digitais e também famílias interessadas em segunda habitação fora do país de origem. Também há cada vez mais cidadãos de França e oriundos de países francófonos, como a Bélgica, a buscarem oportunidades apenas para investimento e negócio.
Apesar de não se saber ao certo quantas são as empresas originalmente de França do ramo do imobiliário a operar em território português (ver texto ao lado), um levantamento feito pelo JN concluiu que ultrapassam as três dezenas. Grande parte viu disparar as receitas após o período da pandemia.
Perfil do cliente
“As imobiliárias estrangeiras a atuar em Portugal cresceram de forma significativa e as francesas não são exceção. É um fenómeno normal com planos de expansão no futuro próximo”, explica ao JN Patrícia Barão, vice-presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP). “Trata-se de um sinal forte de que continuamos a ser um país apetecível para atuar na Europa”, acrescenta.
Paula Duarte, responsável em Portugal da Nestenn, imobiliária francesa a atuar em terras portuguesas de há cinco anos a esta parte, refere que o “cliente francês procura cada vez mais um produto imobiliário diferenciador”. A diferença está no foco da procura. “Geralmente, quando chega até nós, já vem com um projeto bem definido”, acrescenta.
“O interesse francês começou nas áreas de Lisboa e Cascais, estendeu-se depois à Comporta e tem vindo a intensificar-se no Porto, onde os valores são mais baixos”, aponta, por sua vez, Filipa Frey-Ramos, diretora-geral da também gaulesa Barnes.
Fundos milionários
As novidades trazidas pelas agências francesas também se expressaram na forma inédita de algumas formas de negócio levadas a cabo no contexto nacional. Uma empresa, que, segundo sabe o JN, deixou, entretanto, de atuar em Portugal, dedicava-se a adquirir casas a cidadãos de terceira idade por valores abaixo da média de mercado e comprometia-se a que os mesmos as pudessem habitar sem qualquer custo adicional até falecerem.
“Trata-se de um método muito frequente utilizado em França, mas que em Portugal acabou por não ter grande sucesso”, apontou fonte próxima conhecedora das movimentações feitas através de tal processo, que preferiu não se identificar. “Apesar de estar fora do radar de perspetiva de atuação na atualidade, a verdade é que não está colocada de lado a possibilidade de qualquer outro ‘player’ francês voltar a optar por estratégia semelhante a curto ou médio prazo. Aliás, seria bom que tal sucedesse, para estimular o setor com uma estratégia diferente de atuar num mercado ainda muito fechado”, adiantou a mesma fonte. A ideia passava ainda por valorizar os imóveis a fim de os vender mais tarde a preços substancialmente superiores aos de aquisição.
Arrendar e vender
Outra forma passava também por adquirir imóveis a preços apetecíveis e arrendá-los para garantir proventos financeiros até serem vendidos anos mais tarde por cifras substancialmente elevadas. Foi o que aconteceu com cerca de 600 casas compradas por um fundo francês, que acabaram comercializadas por mais de 100 milhões de euros.
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Portugal em alta
A edição deste ano do MIPIM, a maior feira imobiliária do Mundo, realizada como habitualmente em Cannes (França) dedicou particular atenção ao mercado português. Empresas francesas que atuam no mercado, em particular as SCPI (Sociétés Civiles de Placement Immobilier), declararam o seu interesse em aumentar a sua penetração em Portugal. O quadro fiscal nacional foi apontado como uma das vantagens para os investidores franceses darem o passo para apostarem em Portugal.
Negócios sobem
Dados divulgados pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) revelaram que o total de investimento francês em Portugal rondou os 4 mil milhões de euros, em 2024. Tal significou um crescimento de 15% em relação aos valores verificados em 2023. Não foi especificada a parte correspondente à questão imobiliária.
Presença de França aumenta
A Câmara de Comércio e Indústria Luso-Francesa (CCILF) estima que estejam em atividade cerca de 750 empresas francesas em Portugal. A CCILF aponta que serão 60 mil os trabalhadores que integram essas mesmas empresas, que vão do ramo automóvel às tecnológicas.
Investimento estrangeiro
O Banco de Portugal (BdP) publicou em novembro os dados referentes ao investimento imobiliário estrangeiro em Portugal relativo ao terceiro trimestre do ano passado, os chamados meses de verão. Só nesse período as movimentações no setor por parte de intervenientes internacionais atingiu 984 milhões de euros. O BdP adiantou, sem precisar nacionalidades em concreto, que os países europeus foram os que então mais investiram.
150 mil imóveis no mercado
A APEMIP prevê que até ao final do presente ano de 2025 sejam vendidos cerca de 150 mil imóveis e que dessa quantidade a presença de intervenientes estrangeiros seja superior a 10%. Lisboa, Algarve e Porto continuam a ser as regiões do país mais atrativas para os compradores externos, diz a associação, que vê em crescendo o interesse de cidadãos dos Estados Unidos da América e do Brasil em adquirir em Portugal.
Dados
Áreas de preferência
Porto, Lisboa e Algarve continuam a ser as regiões favoritas para investimento imobiliário francês. No entanto, dizem especialistas no mercado, bolhas como quintas no Alentejo e no Douro são outros dos alvos favoritos.