O dinheiro transferido para Portugal por emigrantes superou, pelo segundo ano consecutivo, os quatro mil milhões de euros, em 2024, confirmando a tendência de crescimento que se mantém há 15 anos. Em dezembro, os portugueses enviaram 393,55 milhões de euros para o país, o valor de remessas mais elevado do ano.
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De acordo com os dados da balança de rendimentos do Banco de Portugal (BdP), divulgados esta quarta-feira, no ano passado, os emigrantes enviaram 4301 milhões de euros para Portugal, mais 5,5% do que em 2023, quando o país recebeu 4078 milhões de euros. Assim, 2024 quebra um novo recorde, tornando-se no segundo ano consecutivo com mais de quatro mil milhões recebidos em remessas e no quarto ano seguido, desde 2020, com mais remessas recebidas desde o início do milénio.
Tal como o JN já tinha noticiado, o montante dos rendimentos transferidos por portugueses a residir no estrangeiro cresceu 80% nos últimos 15 anos, verificando-se uma subida contínua desde a crise financeira mundial. Até 2020, ano em que foram enviados 3768 milhões de euros, o valor mais elevado tinha sido alcançado em 2001, quando o BdP registou 3737 milhões de euros. Após a queda entre 2001 e 2009, o montante não tem parado de subir.
Suíça ultrapassou a França nos países de origem
Em relação ao ano passado, segundo a informação divulgada pelo Banco de Portugal, dezembro foi o mês com mais remessas recebidas (393,55 milhões), superando o mês de julho (389,84 milhões), os meses tendencialmente com mais transferências. No que diz respeito aos países de origem dos rendimentos, o último mês do calendário alterou o pódio final de 2024. Com 1135,18 milhões de euros, a Suíça ultrapassou a França, que registou 1108,96 milhões de euros. Na lista segue-se o Reino Unido (718,81), os Estados Unidos (279,83), Angola (267,61) e a Alemanha (230,90).
De acordo com Rui Pena Pires, do Observatório de Emigração, a melhor maneira de entender o volume das remessas é "ter em conta que, em média, nos últimos dez anos, foram ligeiramente superiores aos fundos comunitários transferidos para Portugal", com a exceção do financiamento extraordinário do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). "Há a perceção de que os dinheiros europeus são fundamentais para o desenvolvimento do país. É talvez a melhor comparação", afirmou o investigador do Centro de Investigação de Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa, no final de janeiro.
Imigrantes enviaram mais de 800 milhões de euros
No sentido inverso à entrada de dinheiro, as remessas enviadas pela comunidade estrangeira a residir em Portugal atingiram, no ano passado, os 845,71 milhões de euros, mais 5,7% do que em 2023. Só em dezembro, os imigrantes transferiram para os países de origem 75,53 milhões de euros, montante que não superou os 80,34 milhões de euros enviados em julho, o mês mais expressivo de 2024.
Em linha com o crescimento da população imigrante em Portugal, desde 2021 que a subida tem sido notória, ainda que o período mais expressivo tenha ocorrido entre 2000 e 2006. De acordo com os dados do BdP, as remessas passaram de 323 milhões de euros, em 1993, para 845,71 milhões de euros, em 2024, o que representa um aumento superior a 160%.
Só para o Brasil - o país mais representativo da comunidade imigrante, representando 35,3% dos 1 044 606 estrangeiros legalizados em Portugal em 2023 - recebeu, no ano passado, 413,80 milhões de euros, quase metade do total das remessas enviadas.