Renault Clio VI: a maior evolução de sempre e uma versão híbrida "castigada" pela fiscalidade portuguesa

Novo Clio quer revolucionar o segmento B
Foto: Renault
Mais de três décadas depois de ter democratizado a ideia de um pequeno utilitário com ambições de "carro grande", o Renault Clio regressa profundamente reinventado. A sexta geração estreia um design mais atlético, motores totalmente novos e um salto tecnológico tão significativo que coloca o modelo no limite superior do segmento B. Paradoxalmente a fiscalidade portuguesa pode travar a carreira comercial da versão hibrida, a que menos gasta e polui.
O Renault Clio chega à sua sexta geração num momento crucial da indústria automóvel, marcado pela transição energética, pela pressão regulatória e pela necessidade de elevar a eficiência. O Clio VI assume esse desafio crescendo em dimensões, revolucionando o design, com mais qualidade de materiais e de montagem e adotando tecnologia raramente vista no segmento B.
O impacto visual é imediato. O capot mais longo, a frente mais expressiva e as jantes até 18" dão-lhe uma postura inédita. A grelha tridimensional e a nova assinatura luminosa em "V" revelam a ambição da Renault de reposicionar o Clio num patamar superior. A silhueta, mais atlética e fluida, reforça uma intenção: este não é apenas mais um Clio, é um salto geracional.

Por dentro, a evolução é ainda mais evidente. O conjunto digital com dois ecrãs de 10,1"" - painel de instrumentos e ecrã central - aproxima-se de propostas de segmentos acima. O sistema OpenR Link, desenvolvido com a Google, permite usar Maps, Assistant ou Play sem ligação ao smartphone. Os materiais melhoraram, a iluminação ambiente - até 48 cores - cria um ambiente mais personalizável e o espaço para passageiros cresceu claramente. A bagageira de 391 litros coloca o Clio no topo do segmento em capacidade.
A tecnologia de segurança também sobe de nível. O Clio pode integrar até 29 ADAS, incluindo condução semiautónoma, câmara interior para deteção de fadiga, travagem automática dianteira e traseira e visão 360º. É um conjunto que reforça a ideia de que esta geração não pretende apenas acompanhar o mercado: pretende liderá-lo.
A gama de motores reflete a diversificação tecnológica da Renault. O Full Hybrid E-Tech 160 é a estrela em eficiência: combina um motor 1.8 com dois motores elétricos, 160 cv, consumos de 3,9 l/100 km e emissões de 89 g/km. Em cidade, pode circular até 80% do tempo em modo elétrico.

Abaixo dele surge o novo TCe 115, um 1.2 turbo mais moderno, mais eficiente e com caixa manual ou EDC. Mais tarde, juntar-se-á o Eco-G 120 (gasolina + GPL), com autonomia combinada de 1.450 km.
Consumos
Conduzimos precisamente a versão híbrida durante a apresentação internacional do modelo, que decorreu na zona de Lisboa e a primeira constatação foi o baixo consumo. A Renault homologou uma média combinada de 3,9 l/100km e nós conseguimos 3,6 l/100km, num trajeto que incluiu um percurso citadino, algumas vias rápida e estrada de serra.

Destaque para a forma sólida como pisa a estrada, o comportamento sem mácula e as acelerações vigorosas, que também as experimentamos.
Bem construido e equipado, a carreira comercial desta interessante versão não vai ser fácil, graças a uma fiscalidade absurda, como notou Hugo Barbosa, porta-voz do Renault Group em Portugal.
Fiscalidade
Segundo Hugo Barbosa, "o Clio Full Hybrid é, paradoxalmente, o modelo mais penalizado pelo ISV, apesar de ser o mais eficiente". O responsável explica que a estrutura fiscal portuguesa continua a centrar-se na cilindrada, penalizando motores maiores mesmo quando estes fazem parte de sistemas híbridos que reduzem consumos e emissões. No caso do Clio, isto traduz-se num desequilíbrio evidente.
"O novo Clio híbrido paga 3.838 euros de ISV, um valor que é 11 vezes superior ao da versão TCe", sublinha, acrescentando: "É um contrassenso. O modelo mais eficiente da gama é também o que suporta o maior imposto."
A diferença torna-se ainda mais difícil de justificar quando se observa o comportamento fiscal do novo motor 1.2 TCe. "Mesmo passando de um 1.0 para um 1.2, o aumento de imposto foi de apenas 318 euros", nota o responsável da marca, realçando a incoerência entre as metas ambientais e a realidade fiscal. Ou seja, na prática, a legislação continua a favorecer motores puramente térmicos, mesmo quando são menos eficientes e mais poluentes.

Este enquadramento coloca a versão híbrida em desvantagem competitiva no mercado nacional. Nãopor uma questão de produto ,mas sim de contexto legislativo.
Preços
No mercado português, o novo Renault Clio TCe 115 começa nos 21.990 euros na versão Evolution e sobe para 23.690 euros na Techno. Já o Clio equipado com o motor TCe 115 EDC+ (caixa automática) apresenta preços finais de 25.190 euros (Techno) e 26.890 euros na versão Esprit Alpine.

O ponto mais revelador surge quando se compara o custo antes de impostos com o custo final da versão híbrida. A Full Hybrid E-Tech 160 Esprit Alpine tem um preço base de 19.730,24 euros, inferior ao da TCe 115 EDC+ Techno. No entanto, devido ao impacto do Imposto Sobre Veículos, o híbrido acumula 3.838,87 euros de ISV e 5.420,89 euros de IVA, terminando num preço final de 28.990 euros.

