Quinta do Bomfim, no Pinhão, tem dezenas de trabalhadores que dormem e comem no local da apanha da uva. Pisa a pé foi de novo anulada por proporcionar contágio.
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Vindimas em contexto de pandemia requerem mais cuidados, ainda que nos aproximemos a passos largos da imunidade de grupo. No Douro, a família Symington adotou métodos rigorosos, assim como as nove adegas da região, que têm cerca de 500 trabalhadores em permanência, testados uma vez por semana.
O dia começou cedo para António Ferreira, 55 anos: "Eram 4.30 da manhã e já estava a pé". Faz cerca de meia hora de viagem, de Tarouca até ao Bomfim, no Pinhão, a quinta da família Symington há cinco gerações. António vai e vem a casa todos os dias, ele e outros tantos trabalhadores sazonais que ali fazem a vindima. É o terceiro ano consecutivo que corta uvas no Bomfim, mas os dois últimos têm sido diferentes da primeira que ali fez. "Andar de máscara não dá jeito nenhum", reclama. E o dia em que o JN o encontrou nem era dos piores: "O tempo está ameno. Quando o sol aperta é que custa, temos de andar sempre a molhar o bico" justifica. António Ferreira tem a vacinação completa, mesmo assim, já fez um autoteste que deu negativo. Durante as próximas três semanas, fará pelo menos mais três testes à covid.
Cantorias
A festa das vindimas acontece com alegria e nem a pandemia tira a vontade de cantar de Aida Cardoso, 56 anos. Entre o som das tesouras e os "oupa" - palavra que dá força - dos homens que puxam os balseiros e carregam os tratores, ouve-se a "artista de serviço" que até tem repertório próprio "e é afinada", gabam os colegas. Aida é responsável pela roga (grupo de homens e mulheres que trabalham na vindima) de 15 pessoas que traz de Castro Daire. Durante os cerca de 20 dias de vindima, o pessoal da roga come na cantina da quinta e pernoita em dormitórios preparados para o efeito. "Só saímos para vir para a vinha", explica. A vindimadora sabe que as medidas de segurança são necessárias: "Já fomos testados e vamos fazer mais testes". "A testagem e o controlo mais rigoroso é importante para as pessoas e para o negócio", afirma Pedro Sousa, enólogo responsável da adega do Bomfim. "Temos de ter cuidado porque a vindima é apenas um tiro no ano e não podemos correr riscos e cair em situações de mandar pessoas para casa ou fechar a adega", explica. Só em pessoal da adega, que são 22 durante a vindima, vão fazer-se cerca de uma centena de testes.
Este ano, e pelo segundo consecutivo, nem a tradicional pisa a pé escapa aos efeitos da pandemia. "Temos de evitar contactos físicos", justifica Miguel Potes, diretor de comunicação da Symington Family Estates, a maior proprietária de vinhas da região.
Na Quinta do Vesúvio, em Foz Côa, a pisa está suspensa. "Não fizemos como medida de segurança, porque era impossível garantir a segurança de 40 ou 50 pessoas dentro de um lagar a pisar horas e horas a fio", explica o responsável, coisa que não acontecia desde os tempos da Ferreirinha, em 1827.
Procura
Turismo atinge níveis pré-pandemia
A procura de turistas nesta altura "já está ao nível de anos sem covid", afirma Fernanda Natário, guia sénior do centro de visitas do Bomfim. "Estamos sobrelotados e a recusar reservas", explica. "No ano passado, os clientes eram mais portugueses. Este ano, como os estrangeiros puderam regressar, a maioria dos que nos visitam são ingleses, holandeses, franceses, alemães e espanhóis". "Ainda agora fiz uma reserva para domingo porque os sábados de setembro estão todos preenchidos", diz.
Saiba mais
Prioritários
A agricultura e a construção são setores prioritárias para a testagem. A norma prevê que os testes sejam feitos de 14 em 14 dias. "A responsabilidade pela realização de testes de diagnóstico são da empresa utilizadora ou beneficiária final dos serviços prestados", esclarece a task force para a vacinação.
Recomendação
O Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, questionado pelo JN, afirma que não tem dados concretos de números de testes realizados nas áreas da agricultura e da construção por se tratar de uma "recomendação".