Do Minho ao Algarve, passando por Porto e Lisboa, operadores e empresários estão bastante otimistas.
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As expectativas são elevadas para o próximo verão e quer os responsáveis pelo turismo quer os operadores esperam superar os resultados do ano passado. O preço de cem euros pelo teste obrigatório para quem circula na União Europaia é um entrave mas nas ruas das principais cidades portuguesas já se ouvem os mais diversos idiomas e, curiosamente, há mais gente a viajar sozinha e de todas as idades.
"A exemplo de 2020, o setor vai ser procurado por turistas nacionais mas acreditamos que este verão será diferente e as informações que temos é que já há muitas reservas de espanhóis. A Espanha é o principal emissor mas há ainda mercados importantes que temos de contar, como o francês e o alemão", explicou ao JN Luís Pedro Martins, presidente da Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte de Portugal. Tal como no ano passado, também neste verão será difícil ver o regresso dos turistas americanos, canadianos e brasileiros, o que é "compreensível pelo facto de as pessoas não estarem dispostas a viajar para longe em tempo de pandemia".
Os "indicadores são positivos para a última semana de maio e já para o mês de junho", mas para trás ficam os valores referentes à ocupação hoteleira, por exemplo no Porto, nos primeiros três meses deste ano, que apresentam uma quebra face ao mesmo período do ano passado em vésperas de rebentar a pandemia. A região quer bater os números conseguidos no ano passado. Foi a segunda com mais dormidas no país, com Minho, Douro e Trás-os-Montes a apresentarem, em alguns locais, taxas de ocupação superiores a 90%". Este ânimo crescente em relação ao verão, como constatou o JN, acontece não só no Norte mas por todo o país, com a Madeira e o Algarve a prepararem-se para a chegada em força dos britânicos agora que Portugal foi incluído na lista verde dos destinos do Reino Unido. O facto dos turistas britânicos que optarem por Portugal não terem de fazer quarentena no regresso tem gerado nos últimos dias uma corrida à marcação de viagens. No Algarve já se antecipam enchentes.
Ao JN, o Pestana Hotel Group confirma "um aumento das reservas para os meses de verão, em resposta à perspetiva de um verão com menos restrições, em linha com o que sucedeu no ano passado". O primeiro mercado a responder foi o interno e agora, com a inclusão de Portugal na lista verde, há um crescimento da procura dos mercados internacionais, em especial do britânico.
Alojamento local em recuperação
Também o Vila Galé Hotéis diz "começar a registar alguma procura para o verão, maioritariamente por parte dos clientes portugueses e sobretudo nos hotéis no Alentejo e Algarve". A empresa admite que o ritmo de reservas possa acelerar nas próximas semanas. "Acreditamos que vai ser um verão melhor do que o de 2020, mas ficará ainda abaixo dos anos anteriores, uma vez que os mercados europeus só deverão começar a viajar mais tarde e com limitações", afirmam.
Também no alojamento local reina o otimismo e são estas unidades de menor dimensão as que estão a sentir de forma mais rápida o regresso dos turistas, sobretudo nacionais. "As expectativas são bastante assimétricas, dependendo dos destinos. O que estamos a sentir agora é um maior interesse do mercado nacional, mais pela praia e por vivendas no interior do país. É um bocado o que aconteceu no ano passado, as pessoas como não viajaram para fora resolveram experimentar outros destinos aqui dentro, conhecer outras zonas e regiões do país", refere Eduardo Miranda, presidente da Associação do Alojamento Local em Portugal.
Porto: Turistas nacionais e preços mais baixos
Os olhos de Anabela Bernardes não param de brilhar quando fala no regresso dos turistas ao alojamento local que gere na Rua das Flores, no Porto. Pela porta da Casa dos Lóios by Shiadu entra um casal de açorianos com um filho. O som das rodinhas das malas ecoa pelo átrio.
António Sousa, Cidália e Filipe são da Ilha de S. Miguel onde começaram há poucos meses também com um negócio de alojamento local, o Serenity Casa da Aldeia. "Não podemos estar mais contentes, pois estamos a ter uma boa procura. Por isso viemos passear até ao Porto", refere António.
Anabela explica que, "por enquanto, a procura é sobretudo de turistas portugueses e há já bastantes e animadoras reservas". Ao contrário do que acontecia antes da pandemia, muitos viajantes batem à porta pois sabem que vão encontrar vaga. "Mas o importante é deixar para trás aqueles dias tristes em que ninguém passava na rua", explica.
Às artérias da cidade voltaram ainda outros trabalhadores de uma economia paralela que serve a hotelaria. Homens e mulheres com grandes sacos azuis da loja sueca IKEA, onde transportam lençóis e atoalhados.
Os preços de estadia baixaram até mesmo nas grandes cadeias, como a Mercure Porto, na Praça da Batalha. "Entre 30% e 40%", diz a funcionária Susana da Maia. Já têm reservas para o "verão que se espera melhor do que o de 2020", num aumento de pedidos surgidos desde há uma semana. São sobretudo ingleses, franceses e espanhóis.
Braga: Espera chegar a 80% de ocupação no verão
A proximidade de Braga ao Parque Nacional da Peneda-Gerês é um trunfo que os empresários do setor hoteleiro do concelho querem aproveitar no próximo verão. As reservas já começaram a chegar, sobretudo oriundas do mercado nacional, mas a expectativa é receber, também, muitos espanhóis até setembro.
"Esperamos chegar aos 70% ou 80% de ocupação. Será muito positivo em ano de pandemia", contabiliza José Santos, diretor do Porta Nova Collection House, um alojamento local com perfil de hotel mesmo à entrada do Centro Histórico.
A localização e a dimensão do espaço são vistas como uma vantagem para atrair clientes, assegura o responsável: "A tendência é as pessoas procurarem unidades mais pequenas, próximas dos transportes públicos e de atrações como o Gerês".
Varico Pereira, administrador dos Hotéis do Bom Jesus, reconhece que o mercado já começou a mexer "e vão caindo reservas para julho e agosto". "Se conseguirmos uma ocupação entre 50% e 70% será muito bom", considera. Menos otimista está o dono do Bracara Augusta, que prevê um ano "a meio gás". "Vamos abrir o hotel no fim do mês, mas ainda não temos reservas", relata António Costa.
Segundo o diretor-geral da Associação Comercial de Braga, Rui Marques, "a expectativa é que haja uma recuperação no verão", embora admita que, por enquanto, as reservas caem a conta-gotas. "As pessoas não sabem como vai evoluir a pandemia", justifica. Texto: Sandra Freitas
Lisboa: "Um ano a ver navios" por causa da covid
Na Graça, um dos bairros típicos de Lisboa mais cobiçados por turistas, o hostel Charme da Graça, como a maioria dos alojamentos temporários, começou a receber pedidos de cancelamento assim que a pandemia covid-19 chegou a Portugal. "Era diariamente, como uma bola de neve. Estamos há um ano a ver navios", lamenta Roberto Russo. Após um ano atípico, o dono do Charme da Graça acredita que com a chegada dos turistas britânicos ao país, a partir de hoje, e o verão à porta, o cenário vai melhorar.
"Com o sinal verde para a abertura da fronteira à Inglaterra, os nossos principais clientes, estamos mais otimistas. Acredito que no verão os quartos estarão todos ocupados, principalmente em junho, que é um mês festivo em Lisboa", diz. Quando as reservas foram canceladas, há um ano, Roberto Russo transformou alguns quartos em estúdios, e instalou casa de banho noutros, uma mudança que também poderá atrair mais clientes.
"Percebemos que, por causa da pandemia, os hóspedes procuravam mais privacidade. As pessoas tinham mais necessidade de ter quartos com casa de banho privativa e aproveitamos a quebra do ano passado, quando não tínhamos ninguém, para fazermos essas obras", diz o brasileiro, há três anos em Portugal.
O dono do hostel conseguiu ainda reverter alguns cancelamentos em vouchers, no ano passado, e espera que esses hóspedes regressem agora. Texto: Sofia Cristino
Algarve: Britânicos fazem disparar reservas nos hotéis
As reservas nos hotéis do Algarve dispararam quando Portugal foi incluído no corredor verde de viagens de turismo dos britânicos. Hoje chegam ao Aeroporto de Faro 17 voos provenientes do Reino Unido.
O Dom José Beach Hotel, em Quarteira, é um dos empreendimentos turísticos que irão receber muitos dos mais de cinco mil britânicos que deverão chegar à região.
Segundo o diretor, João Soares, "a procura subiu 66%" desde o dia 7, altura em que foi conhecida a lista verde. Entretanto, houve alguns cancelamentos, uma vez que as viagens não essenciais não estavam ainda autorizadas pelo Governo português, o que só aconteceu uma semana depois. "A partir do momento em que a situação ficou esclarecida, o ritmo de reservas acelerou novamente", explicou.
Nos hotéis Tivoli da região "a central de reservas bloqueou nas primeiras horas após o anúncio", revelou o diretor de Operações do Grupo no Algarve, Jorge Beldade. "Temos cerca de cinco mil reservas para maio e 20 mil para junho, a maioria de britânicos, o que nos faz acreditar que este verão será bastante melhor do que o do ano passado e andará próximo do de 2019", acrescentou.
Para o presidente da Região de Turismo do Algarve, João Fernandes, a inclusão na lista de destinos seguros foi "um reconhecimento justo" e é "uma oportunidade": Portugal está sem concorrência, uma vez que Espanha, França e Grécia ficaram de fora desta lista, o que "beneficia muito" o Algarve. Texto: Marisa Rodrigues
