Momentos de grande tensão viveram-se, ontem à tarde, à porta da casa do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, com os clientes do papel comercial do BES a reclamarem as suas "poupanças congeladas".
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Dezenas de pessoas reclamavam o reembolso de poupanças que aplicaram em papel comercial do Grupo Espírito Santo (GES), com a promessa de que era uma produto em tudo similar a depósitos a prazo, com capital e juros garantidos, em alguns casos a 4,6% brutos ao ano. A maioria dos clientes que falaram com o JN declararam que sempre lhes foi dito que aquele produto não teria qualquer risco (ver histórias na página ao lado).
Neste momento, avançaram ainda, os clientes conseguem ver no seu extrato bancário o dinheiro que têm à ordem, mais o montante aplicado em papel comercial. Só que neste último não podem mexer, ou seja, "está congelado", explicou, por exemplo, Ricardo Ângelo, um dos organizadores do protesto.
Pressionar o governador
A manifestação começou logo pela manhã, à porta da antiga FIL - na Junqueira, em Lisboa, onde se encontraram os quadros do Banco de Portugal, com a presença do governador Carlos Costa, para uma palestra sobre regulação e fiscalização financeira. Sobre aquilo que "pouco souberam fazer", gritaram alguns dos presentes cá fora.
Os manifestantes seguiram depois depois para a Expo, onde habita Carlos Costa, e encontraram um forte dispositivo policial. Houve quem tentasse furar os dois cordões policiais, mas a situação foi controlada após alguns momentos de grande tensão.
São clientes indignados, muitos colocaram naquele produto as poupanças de uma vida e sentem que "ninguém dá uma explicação e ninguém quer reembolsar". De facto, o Novo Banco, durante seis meses, e até janeiro passado, afirmava que iria ressarcir os lesados. Mas, na semana passada, alguns dos clientes começaram a receber cartas do Novo Banco pedindo que reclamassem os seus créditos junto de sociedades do GES que estão em liquidação no Luxemburgo, a ESI e a Rioforte. Para quem promoveu o protesto, a Associação dos Indignados e Enganados do papel Comercial (AIEPC) isto é, para já, inaceitável. Ainda assim, terá uma reunião na próxima sexta-feira com o Novo Banco e emitirá depois um parecer.
Recorde-se que o Governador do Banco de Portugal vai ser ouvido, esta terça-feira, na comissão parlamentar de inquérito ao caso BES/GES.