Protestos de pilotos e tripulantes de cabina estão a alastrar e podem crescer até ao inverno, altura em que a companhia "low-cost" prevê encerrar bases.
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Os passageiros da Ryanair devem retomar os seus lugares, apertar os cintos e preparar-se para o período de turbulência que se espera para este verão, com elevadas probabilidades de prolongar-se pelo outono e, mesmo, até ao inverno. Além da greve dos tripulantes de cabina portugueses, de 21 a 25 de agosto, está agendada a paralisação dos pilotos ingleses, a 21 e 22 deste mês e com repetição de 2 a 4 de setembro, e os tripulantes de cabina espanhóis e os pilotos irlandeses votaram a marcação de greves para setembro, ainda sem data. Pode ser apenas o início, dada a redução do plano de expansão da companhia de baixo custo que prevê encerrar bases neste inverno.
"[A Ryanair] fazer-se de vítima sobre alegadas perdas é injustificável quando se trata de um negócio que tem estado constantemente a aumentar os lucros", comentou o secretário-geral do sindicato espanhol USO, no dia em que a companhia anunciou que, a partir de 8 de janeiro, irá encerrar as bases espanholas de Las Palmas, Tenerife Sul e, eventualmente, Girona devido à falta de entrega de 155 aviões Boeing 737 MAX 8 e à quebra de 21% nos lucros (243 milhões) no segundo trimestre deste ano.
"É no mínimo curioso que a companhia tenha escolhido esta altura para anunciar o encerramento da base de Faro. É uma nítida tentativa de chantagem aos tripulantes de cabina devido à greve", considerou Luciana Passo, presidente do Sindicato Nacional de Pessoal de Voo da Aviação Civil.
Os portugueses foram os primeiros a partir para a greve este verão, um ano depois de múltiplos protestos com exigências idênticas pela Europa fora, nomeadamente: contratos respeitando a legislação laboral de cada país onde se baseia o pessoal, ao invés dos contratos irlandeses mais "amigos" das empresas e o fim da precariedade, com a integração do pessoal que está permanentemente alocado à Ryanair mas através de contratos temporários com agências.
Um plano para poupar
A Ryanair invocou o estrangulamento da capacidade de expansão devido à paragem dos Boeing Max, na sequência das misteriosas quedas de dois aviões novos. E já tinha explicado a quebra nos lucros devido à descida constante de tarifas. No dia em que anunciou a diminuição de atividade e o encerramento de bases, as ações da Ryanair subiram em Bolsa - porque menos oferta significa bilhetes mais caros para os passageiros.
E quanto a sindicatos e greves? A "low cost" já transferiu sete bases na Polónia para a comparticipada Ryanair Sun (passará a chamar-se Buzz no outono) e considerou redundantes os pilotos e tripulantes - quem quis continuar teve de inscrever-se como trabalhador independente numa agência de trabalho da aviação. Há dias, durante o lançamento da Malta Air, revelou a transferência de 11 aviões e das bases de França, da Alemanha e da Itália para o país mediterrânico.