Entre abril e junho de 2014, Ricardo Salgado pediu um total de 150 milhões de euros à companhia de seguros Tranquilidade para financiar o Grupo Espírito Santo (GES), o que acabou por desvalorizar a empresa.
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Os valores dos empréstimos da Tranquilidade ao GES foram, esta quarta-feira, revelados pelo ex-presidente da Tranquilidade, Pedro Brito e Cunha, na audição na comissão parlamentar de inquérito ao caso BES/GES.
Em resposta à deputada Teresa Anjinho, do CDS-PP, Brito e Cunha disse que a exposição do total da Tranquilidade ao GES era de 150 milhões de euros. E detalhou as quatro operações, que admitiu terem sido feitas por ele próprio, a pedido de Ricardo Salgado, e sem a autorização prévia da Comissão Executiva da Tranquilidade.
"O primeiro empréstimo de 15 milhões foi em maio. O de 40 e o de 45 milhões foi compra de papel comercial e também de prazo muito curto. O último de 50 milhões foi uma ajuda à casa-mãe para sustentar a sua posição no último aumento de capital do BES. Já tinha havido no passado outras situações destas. Em fevereiro de 2014, já tinha havido um empréstimo de 100 milhões à ESFG, com um prazo muito curto, de um mês, que foi reembolsado a 7 de março, com uma boa taxa de remuneração", disse.
O ex-presidente da Tranquilidade justificou estas operações com o facto de estar, por um lado, a "ajudar o acionista" e por as considerar "interessantes" para a companhia. "Eram investimentos bem remunerados, com muito baixo risco, não havia razões para duvidar do acionista principal", disse, admitindo, mais tarde, que "era muito difícil recusar" este apoio a Ricardo Salgado.
"Quem sou eu para ir questionar o meu acionista quando ele me pede uma ajuda nesse sentido?", questionou, assumindo que nenhuma destas decisões passou por uma decisão formal da Comissão Executiva da Tranquilidade, que apenas foi informada posteriormente.
Questionado pela deputada do BE, Mariana Mortágua, justificou-se com o facto de serem operações com "caráter de urgência" e com o facto de serem "temporárias" e disse que não havia procedimentos internos para estas operações.
"Foi uma decisão que tive que tomar rapidamente, porque o acionista estava a pedir para fazer isso dessa maneira. Nunca tendo, no passado, havido problemas, porque é que havia de questionar quando essa ajuda era benéfica para a companhia?", disse, insistindo que na altura ainda não sabia dos problemas do grupo e que considerava que "não havia risco".
"Estes empréstimos eram para ajudar o grupo, era do interesse da companhia ajudar o grupo, e o BES era um grande parceiro da companhia. Era óbvio que ajudar o grupo para ajudar o banco fazia todo o sentido", disse, ao deputado do PCP, Paulo Sá.
Só a 6 de junho, confrontado com um novo pedido para emprestar dinheiro ao GES, Brito e Cunha comunicou estas operações ao Instituto de Seguros de Portugal e percebeu que devia deixar de o fazer, explicou.