
Bens alimentares estão mais caros
Pedro Granadeiro / Global Imagens
Voos, férias, gasolina, pão, fruta, carne e peixe estão muito mais caros. Serviços médicos, computadores e telemóveis estão mais baratos. Economia começa a dar sinais de fraqueza.
A guerra da Rússia contra a Ucrânia, que começou no dia 24 de fevereiro, trouxe um aumento quase generalizado de preços na Europa. Num primeiro momento, Portugal parecia estar a passar ao lado do embate inflacionista, mas agora percebe-se que não é bem assim. A inflação portuguesa já vai nos 9,4% (variação homóloga medida em julho), acima da média de 8,9% da zona euro, segundo o Eurostat.
Uma inflação deste calibre encerra uma grande diversidade de situações. O JN/Dinheiro Vivo foi ver como mudaram os preços de mais de uma centena de rubricas do cabaz do Instituto Nacional de Estatística (INE) para calcular a inflação no consumidor final (ver infografia).
Entre janeiro e julho, o leque de diferenças é amplo. Em Portugal, a inflação total deste período ronda os 7%. Tirando os alimentos e a energia, está tudo 5% mais caro. Mas nos alimentos não transformados o poder de compra ressente-se: a inflação supera 11% nestes sete meses. Na energia, é mais do dobro: 24%.
A guerra na Ucrânia veio somar-se a uma situação de constrangimento no abastecimento de matérias-primas que se agravou durante todo o ano de 2021, fazendo subir o custo de alimentos, componentes eletrónicos e petróleo. Esta guerra e as sanções impostas à Rússia (e da Rússia em retaliação), um dos maiores fornecedores de gás e petróleo da Europa, conduziu a um novo choque energético, com o custo dessas matérias-primas a lançar uma crise de poder de compra na Europa, sobretudo junto dos mais pobres.
subidas e descidas
Em Portugal, o líder na inflação são os transportes aéreos, que subiram mais de 81% entre janeiro e julho. Como seria de esperar, os combustíveis, um dos itens mais importantes do cabaz de consumo dos portugueses, aumentaram 20%. O agravamento seria muito superior, se o Governo não tivesse avançado com medidas de amortecimento. A conta da eletricidade e do gás também disparou, com aumentos de 29% e 23%, respetivamente.
Os serviços médicos lideram as quedas, com uma descida de preço médio de 15%. Os serviços hospitalares seguem-se, com uma quebra de 10%. Comprar um computador está 3,5% mais barato. Telefones, telemóveis e máquinas fotográficas registam descidas de 2%.
sinais de fraqueza
Depois de um primeiro trimestre fulgurante, muito alimentado pelo turismo e serviços, a economia começou a dar alguns sinais de fadiga no segundo trimestre, tendo inclusive caído ligeiramente face ao início do ano. De acordo com outro levantamento do JN/DV, há sinais claros de que o estado de graça da retoma terá terminado em alguns parâmetros da economia. O indicador de atividade económica do INE está em declínio, a carteira de encomendas externas dirigidas à indústria portuguesa não sai do vermelho, a criação de emprego está a abrandar de forma notória, o número de novos desempregados inscritos nos centros do IEFP está a crescer desde abril, depois de meses de recuo.
Tal como os seus pares europeus, o Governo de António Costa avançou com medidas para minimizar o embate da inflação nas famílias e empresas. Em abril, foi anunciado um pacote de "18 medidas". Entre elas, a redução do imposto sobre produtos petrolíferos (ISP), equivalente à redução do imposto sobre valor acrescentado (IVA) para 13%. Para os mais pobres, o Governo anunciou o alargamento de "medidas de apoio ao preço do cabaz alimentar (60 euros) a todas as famílias titulares de prestações sociais mínimas, o mesmo acontecendo com o apoio de euros à compra de botijas de gás".
