Das 41 empresas que participaram no projeto-piloto, só quatro retomaram o modelo habitual dos cinco dias. Gestores e trabalhadores apontam vantagens.
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A semana de quatro dias pode funcionar em todos os setores, sendo as mulheres e os trabalhadores com salários e qualificações mais baixos os mais beneficiados. A conclusão é do relatório final do projeto-piloto que hoje é apresentado, destacando que, em geral, os trabalhadores com formação académica superior “têm acesso ao teletrabalho e maior autonomia na gestão das suas horas”, e que os que auferem mais de 1100 euros “têm mais recursos para adquirir tempo livre, seja contratando empregados domésticos ou encomendando refeições já preparadas”.
O estudo envolveu 41 empresas e mais de mil trabalhadores. Destas, só quatro regressaram ao modelo da semana de cinco dias no final do teste.
“A semana de quatro dias é uma prática de gestão legítima e viável, que proporciona benefícios operacionais às empresas, como melhor ambiente de trabalho, redução do absentismo e aumento da atratividade no mercado de trabalho”, pode ler-se no relatório, a que o JN/Dinheiro Vivo teve acesso. No entanto, reconhecem os investigadores Pedro Gomes, da Birkbeck - Universidade de Londres, e Rita Fontinha, da Henley Business School, esta é uma mudança que para ser bem-sucedida requer uma “reorganização profunda”.
Ganhos
Realizado ao longo de 2023, o estudo incluiu empresas que adotaram diferentes formatos da semana de quatro dias e que permitiram uma redução horária, em média, de 13,7%. Para 40% dos gestores, gerou poupanças a nível de consumo energético e de consumíveis. Reduções no absentismo, aumento na capacidade de recrutamento e diminuição na rotação de funcionários são outras das melhorias reportadas pelos gestores.
A maioria está localizada em Lisboa e Porto, sendo de pequena dimensão, com menos de 20 trabalhadores. Edução, saúde, indústria e consultoria são alguns dos setores representados.
Da parte dos trabalhadores, é indicada uma “evidente redução” da exaustão e desgaste, bem como dos sintomas negativos de saúde mental e física. Destacam também o melhor equilíbrio entre trabalho, família e vida pessoal. Consequentemente, dizem-se mais satisfeitos com o trabalho e a vida em geral.
Indica ainda o relatório que os trabalhadores valorizam o benefício em 28% do salário, sendo que “o valor atribuído à semana de quatro dias é maior em mulheres, trabalhadores com filhos, com salários inferiores a 1100 euros e com mais baixas qualificações”. 93% dos trabalhadores gostariam de continuar a trabalhar quatro dias por semana.
O impacto positivo nos trabalhadores é uma vantagem competitiva da empresa no mercado de trabalho porque a maioria diz que só consideraria mudar para um emprego com semana de cinco dias se lhe pagassem mais 20% do que ganha atualmente.