Longe vai o tempo em que a rentabilidade do cavalo se limitava à agricultura e às apostas nas corridas.
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O setor equestre deu o salto e galopa agora noutros patamares, como o turismo e o desporto, em que alguns animais da raça puro-sangue-lusitano valem milhões e atraem grupos de investidores para o negócio das transações, incluindo exportação e venda de sémen para reprodução dos melhores exemplares pelo Mundo.
Os municípios portugueses com atividade equestre uniram-se recentemente numa associação para dar mais visibilidade ao setor como um todo, a nível nacional e internacional, demonstrar o “peso” da fileira do cavalo na economia lusa junto do Estado e reivindicar mais apoio e investimento.
“Não há dúvida nenhuma de que o setor está a crescer, quer na parte desportiva, quer na criação e na parte turística. Temos cada vez mais eventos a nível nacional e são cada vez mais profissionais”, afirma Diogo Rosa, vice-presidente da Câmara da Golegã, “capital do cavalo” e município que preside e integra o núcleo fundador da nova Associação de Municípios Portugueses do Cavalo, juntamente com Ponte de Lima e Alter do Chão.
Este responsável, refere que desporto e turismo são, atualmente, os setores da fileira que “mais rentabilizam” o cavalo, em detrimento do uso agrícola.
“A utilização do cavalo hoje é completamente diferente e a própria seleção do animal tem vindo a ser aprimorada com vista ao desporto e também ao lazer, porque os cavalos querem-se equilibrados, que não sejam demasiado nervosos, para que qualquer pessoa minimamente formada os consiga montar”, descreve, sublinhando que para o uso desportivo os animais precisam ter “determinadas características de agilidade, de movimentos, de dimensão, que são mais atuais”. E, acrescenta que “a criação tem sido mais selecionada para corresponder a essas necessidades”, o que conclui, “só significa que existe interesse económico”.
Mais de 100 mil euros
Segundo Diogo Rosa, a componente desportiva representa, por vezes, quantias milionárias. “Há cavalos vendidos por muito dinheiro. O lusitano é o mais caro para a nossa realidade. Pode ser usado para as disciplinas olímpicas de dressage e há cavalos portugueses que tocam aí nos dois milhões de euros. Depois de serem bem pontuados e de terem determinado ranking internacional nas competições, podem ascender a esses valores.”
“Por exemplo, recentemente saiu uma reportagem numa televisão sobre a venda de um cavalo de uma coudelaria por 18 mil euros. Isso é quase ridículo, porque 18 mil euros custa um cavalo banal. Há cavalos, com muito pouco treino, que são vendidos por mais de 100 mil euros, quanto mais os que já alcançaram resultados desportivos. E, às vezes, uma cobrição de um cavalo pontuado, custa mais do que 18 mil euros. Falta divulgar, dizer às pessoas o peso do setor, porque o grande público não tem noção”, defende, acrescentando que há, mesmo, cavalos que “são detidos por grupos de investimento”.
“O cavalo alcança determinada performance desportiva e, depois, há investidores que o querem comprar porque sabem que vão ter rentabilidade, não só se o quiserem vender, mas principalmente na questão das cobrições. O sémen é vendido para todo o Mundo para inseminar éguas”, explica.
Destaca, de resto, como indicador do dinamismo económico em torno do cavalo em Portugal o posicionamento da Golegã, onde se realiza “a maior e mais antiga (454 anos)” feira do setor.
Picadeiro coberto
“Movimenta milhões de euros”, garante, sublinhando que, naquele “concelho pequeno, com menos de seis mil habitantes”, existe “atividade regular ao longo do ano” ligada ao cavalo, o que o tornou o “concelho da Lezíria do Tejo com maior número de alojamentos locais registado por 100 habitantes”. E, completa, “atraiu recentemente um investimento de 20 milhões de euros do grupo Vila Galé, na reabilitação de uma quinta com foco no turismo equestre”.
É para aquele concelho do distrito de Santarém que a Associação de Municípios Portugueses do Cavalo reclama a criação de um picadeiro coberto no Centro de Alto Rendimento local.
“Será o maior do país. Já temos lá o maior descoberto, mas precisamos de um coberto porque um centro de alto rendimento serve para treinos, provas, para ter atividade no inverno, e as seleções portuguesas precisam treinar todo o ano”, afirma Diogo Rosa, concluindo que “essa é uma discussão que surgiu no âmbito da preparação e criação da associação e foi fácil explicar à tutela que este investimento no centro que já existe na Golegã vai beneficiar todo o país”.
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Municípios
São associados da Associação de Municípios Portugueses do Cavalo a Golegã, Alter do Chão, Ponte de Lima, Esposende, Lagoa, Vila Franca de Xira, Alpiarça, Almeida, Santarém, Viana do Alentejo, Ponte da Barca, Caldas da Rainha, Serpa, Valongo, Vila Pouca de Aguiar, Barcelos, Chamusca e Torres Novas.
Melhores do Mundo
Segundo a Associação Portuguesa de Criadores do Cavalo Puro Sangue Lusitano, dois lusitanos de dressage terminaram 2024 entre os melhores do Mundo no ranking da Federação Equestre Internacional.