O ex-presidente do BES está, esta quinta-feira, pela segunda vez, na comissão de inquérito ao caso BES/GES para, nas suas palavras, exercer o "contraditório" sobre tudo o que tem sido dito nos últimos quatro meses.
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"Só quero lutar pela minha honra e da minha família. Sei que os anos que me restam de vida serão passados nessa luta", disse o ex-banqueiro, atacando o facto de o Banco de Portugal (BdP) ter vindo a divulgar, "gota a gota", ou através da comunicação social, resultados parcelares da auditoria forense pedida e que apontam para gestão danosa da parte de Ricardo Salgado.
"O que se pretendeu passar com a divulgação da primeira parte da auditoria foi claro: desobedeci 21 vezes ao BdP e causei a destruição do BES", apontou Ricardo Salgado no início da sua intervenção no Parlamento, acusando o BdP de o fazer "para que haja uma pré-decisão e um julgamento, sem que este se possa efetivamente concretizar".
A estratégia de Ricardo Salgado é, nesta segunda audição, atacar o governador e a atuação do BdP: anunciou que em agosto apresentou um incidente de suspeição do governador "por manifesta falta de isenção" que, até à data, não terá tido ainda decisão, segundo disse.
Ricardo Salgado tentou rebater algumas das principais conclusões da auditoria, dizendo que "baseou-se apenas em informação do BdP" e que os próprios auditores se queixam de falta de informação.
"O 'ring fencing' [perímetro de proteção ordenado pelo Banco de Portugal à gestão do BES então liderada por Salgado] cego prejudicou o BES em vez de o proteger", defendeu o banqueiro durante a sua intervenção inicial. "A única questão em que estive envolvido diretamente foi nas cartas de conforto [aos investidores da Venezuela. Mas, no que toca às cartas de conforto, não existe qualquer prejuízo ou dano patrimonial", afirmou.
O responsável também refutou as acusações da auditoria quanto ao "dinheiro do BCP e Montepio reembolsados com dinheiro da conta 'escrow'". Isto, porque segundo Salgado "para proteger os clientes e a reputação do BES foi necessário recorrer a empréstimos de curto prazo junto do BCP e Montepio, mas ambos foram reembolsados".
Mais, de acordo com o ex-presidente do BES, relativamente à "eventual desobediência por concessão de crédito a entidades do GES da área da saúde, como o Hospital da Luz", este é inexistente porque os empréstimos "foram reembolsados" e tratou-se de uma "renovação de linhas em vigor, pelo que não houve novos créditos".
Depois destas afirmações, Salgado criticou o papel desempenhado pelo governador Carlos Costa em toda a situação que levou à queda do BES. "Na conferência de 3 agosto, Carlos Costa afirmou que havia gestão danosa e desobediência das recomendações do Banco de Portugal", sublinhou, realçando que se tratou de uma "condenação em viva voz".
"O segundo capítulo [do relatório da auditoria forense] assenta inacreditavelmente em notícias publicadas na comunicação social. E foi divulgado há dois ou três dias, apesar de ser confidencial", criticou. "Estou privado dos meios de defesa ao dispor de qualquer cidadão num Estado de direito", lamentou Salgado.
A comissão de inquérito teve a primeira audição a 17 de novembro passado. Os trabalhos dos parlamentares têm por objetivo "apurar as práticas da anterior gestão do BES, o papel dos auditores externos e as relações entre o BES e o conjunto de entidades integrantes do universo do GES, designadamente os métodos e veículos utilizados pelo BES para financiar essas entidades".