
A opinião é unânime: a semana actual é possivelmente a mais importante da vida da zona euro e pode definir a sobrevivência da moeda única, de acordo com vários economistas portugueses.
"O que está em causa é saber se a União Europeia (UE) sobrevive a si própria ou não", afirma à Lusa o director da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, José Reis, em véspera do Conselho Europeu que vai decidir um segundo processo de apoio à Grécia, com o objectivo de estancar o contágio a outras economias da zona euro.
Para o professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP) Abel Fernandes, "a questão fundamental que está nesta altura em jogo é a própria sobrevivência da zona euro e a continuação do regime monetário que está formado em torno da moeda única".
Há, também, um consenso formado em torno das razões para a situação actual, derivada do facto de a zona euro ter sido criada com "mecanismos de governação económica relativamente débeis", refere o professor de Macroeconomia da FEP Rui Henrique Alves, acrescentando que não é possível encontrar "a nível mundial um caso de uma moeda a que não estivesse associada um Estado, a um poder", como é o euro.
"A questão central é a arquitectura institucional da zona euro, uma zona que partilha uma moeda comum sem ter instrumentos de gestão da sua dívida pública e [com] um banco central demasiado obcecado com a inflação e pouco preocupado com a promoção do emprego e do crescimento económico", considera o investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra João Rodrigues, autor do blogue Ladrões de Bicicletas.
Abel Fernandes explica que "tudo isto nasce, em primeiro lugar, pelo facto de a zona euro nunca ter tido os fundamentos económicos compatíveis com a sua estabilidade", uma vez que nunca constituiu uma "zona monetária óptima", o que significa que sempre foi "um projecto, do ponto de vista económico, extremamente frágil".
De acordo com Rui Henrique Alves, a zona euro foi "construída para um conjunto de países bastante divergentes", sendo que "tudo funcionou muito bem enquanto o crédito era fácil e a conjuntura económica era relativamente boa".
José Reis encara o processo de integração europeia com um dos "mais fascinantes" da contemporaneidade, estando hoje "completamente em risco de desconstrução", algo que está já em marcha. "O ponto é saber quando é que ela se torna irreversível", declara o director da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.
