Ministério do Ambiente e especialistas acreditam no objetivo para 2030 e valorizam unidades de autoconsumo.
Corpo do artigo
Se o Plano Nacional Energia Clima 2021-2030 (PNEC 2030) for cumprido, no final da década a maior parte da energia elétrica será de fontes renováveis, que representarão 90% da potência instalada. Dos 27,5 gigawatt (GW) de potência renovável, nove serão baseados em painéis solares fotovoltaicos.
Segundo os dados de março, o fotovoltaico representa apenas 7,3% da potência total de fontes renováveis, com 1 067 megawatt (MW), pouco mais de 1 GW. No final da década será quase um terço (32,7%), muito perto da energia eólica, que deve ter instalados 9,3 GW (33,8% do total renovável).
Questionado pelo JN sobre se o objetivo do PNEC 2030 é alcançável, o Ministério do Ambiente e da Ação Climática assevera que não espera dificuldades "para o alcançar ou suplantar", pois a "forte procura" supera "várias vezes a oferta" e a rede elétrica está a investir para promover a "produção descentralizada e distribuída em vez de uma produção centralizada".
A produção centralizada é feita em grandes centrais, que ocupam grandes áreas (por vezes, mais de mil hectares), disputando solos agrícolas ou florestais, com impactes ambientais e paisagísticos significativos e necessidade de extensas linhas de transporte. A descentralizada baseia-se em micro ou pequenas unidades com painéis em habitações familiares, coberturas de edifícios públicos, condomínios, fábricas e até parques de estacionamento.
Dos 9 GW previstos, apenas dois se basearão em unidades descentralizadas. Há dezenas de grandes centrais em marcha (só do primeiro leilão os onze lotes já licenciados somam 2,2 GW, prevendo-se a entrada em serviço entre este ano e 2023).
Pequena escala
Os ambientalistas reconhecem que as grandes centrais são necessárias, mas preferem terrenos sem qualidade (antigas pedreiras, por exemplo) e albufeiras aos solos férteis. E valorizam sobretudo o uso do edificado para instalar painéis - não só fotovoltaicos, mas também para aquecimento de águas sanitárias, poupando energia, como salienta o presidente da Zero, Francisco Ferreira.
O especialista em Clima da universidade Nova destaca o papel fundamental das unidade de produção de autoconsumo (UPAC), "quer à escala residencial, quer de serviço, porque se traduzem na prática numa redução das necessidades de procura de eletricidade".
"A pequena escala é um modelo com múltiplas vantagens", salienta o presidente da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN), Pedro Amaral Jorge. "A produção mais próxima do local de consumo evita perdas na rede, potencia a coesão dos territórios de norte a sul do país e promove o emprego fora dos grandes centros", explica, apontando vantagens especiais para as empresas.
"Com o autoconsumo, uma indústria poderá garantir até 30% das suas necessidades energéticas. Se pensarmos que o custo com a energia para as empresas portuguesas representa entre 12% e 25% (do total de encargos), significa que podem poupar entre 5 a 10%, aumentando a sua sustentabilidade económica", salienta.
Segundo as últimas estatísticas rápidas da Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), dos 668 126 megawatt hora (MWh) de produção descentralizada de energia entre abril de 2020 e março de 2021, quase 95% foram gerados em UPAC e mini/micro unidades fotovoltaicas.
Alerta
Grandes centrais em áreas florestais
A produção centralizada em grandes centrais está a preocupar os ambientalistas, devido aos impactes na paisagem e à ocupação de solos férteis. Numa análise da associação Zero, só as nove unidades que estiveram em consulta pública no primeiro trimestre, com uma potência total de 2,4 GW e uma produção anual prevista de 3855 GW, vão ocupar uma área superior a 3500 hectares. Apenas um projeto está previsto para uma área de pedreiras. Outros poderão ocupar áreas florestais e até de Reserva Ecológica Nacional.