António Dornelas, coordenador do estudo sobre emprego ontem apresentado, fala das prioridades para a criação de emprego.
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Perante o cenário traçado no estudo, qual deve ser a prioridade governativa, em termos de Trabalho?
A definição das prioridades é uma decisão de caráter político. E isso, nas democracias, está reservado a quem dispõe da legitimidade democrática, o que não é o meu caso. Parece-me que, como os problemas não são os mesmos, os instrumentos e as soluções também o não podem ser. A meu ver, uma das modificações fundamentais é de orientação: passar da lógica da concentração das políticas no posto de trabalho para a lógica do conjunto da vida activa, o que implica pôr o acento tónico na protecção da mobilidade profissional. No caso português - com baixos níveis de produtividade, com baixos níveis de qualificação, com uma elevada segmentação dos mercados de trabalho, com elevados níveis de desigualdade - essa mudança de lógica ainda é mais importante
Apesar da recente melhoria, a larga maioria das pessoas continua a ter salários baixos. Pode ter a esperança de ver melhorado o seu nível de vida nos próximos anos?
Tudo indica que existe uma situação em que uma elevada proporção de baixos salários coexiste com uma evolução dos custos do trabalho desfavorável à competitividade empresarial e, portanto, potencialmente desfavorável à evolução do emprego. A meu ver, as soluções viáveis terão de passar pela inovação económica e social. Todos sabemos que não são soluções fáceis nem rápidas mas, parece-me, são as únicas com potencialidades estratégicas dignas desse nome. Pode-se, talvez se deva, encarar outras soluções mais eficientes a curto prazo, entre as quais salientaria as formas de adaptabilidade do tempo de trabalho.