Venda de gasolina sem chumbo 95 já ultrapassou níveis pré-pandemia. A versão sem chumbo 98 continua a cair. No gasóleo, o mercado interno está muito próximo dos valores de 2019.
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O aumento do custo de vida provocado pela guerra na Ucrânia não travou o consumo de combustíveis em Portugal durante este ano. As vendas de gasolina sem chumbo 95 já ultrapassavam, em outubro, os valores pré-pandemia, tal como o gás auto (GPL). E o mercado interno de gasóleo recuperou para níveis muito próximos de 2019. Pelo contrário, a compra de gasolina sem chumbo 98, mais cara e muito menos usada, continua a diminuir.
Apesar das descidas recentes no preço dos combustíveis, desde o final de fevereiro que os portugueses pagaram mais para abastecer as viaturas. Mesmo assim, o consumo não deixou de acompanhar a retoma da atividade económica.
Os dados da Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG) sobre as vendas de produtos petrolíferos em Portugal mostram que o mercado reagiu pouco à escalada de preços. Questionado sobre o facto de os aumentos não terem travado o mercado interno dos combustíveis, o secretário-geral da Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas (Apetro), António Comprido, disse que não o "surpreende que, apesar dos preços altos e da guerra, os consumos tenham vindo a recuperar, em linha com a atividade económica".
"O consumo de combustíveis reage muito pouco aos preços. É um consumo necessário, muito mais relacionado com o estado da economia", destacou António Comprido. Admite alguma retração no transporte individual particular, enquanto as deslocações profissionais, o transporte de mercadorias e de passageiros estão "muito mais ligados à economia".
Sem chumbo 95 domina
O consumo de gasolina sem chumbo 95 foi o que mais subiu. O acumulado de 2022 registado em outubro ultrapassou o total alcançado em 2019 até àquele mês.
Segundo a DGEG, que apresenta os valores em toneladas, esse aumento foi de quase 821 mil para mais de 827 mil (ou de 1094 milhões de litros para 1103 milhões). Antes da pandemia, 2019 tinha terminado com um total de 980 mil toneladas (1307 milhões de litros). O consumo de gasolina sem chumbo 95 baixou bastante no primeiro ano da pandemia e começou a recuperar em 2021.
Na gasolina sem chumbo 98, o consumo é mais baixo do que na fase pré-pandémica. Em outubro de 2019, o acumulado do ano chegava a perto de 74 mil toneladas (cerca de 98 milhões de litros). Há dois meses, os números de 2022 rondavam as 66 mil toneladas (88 milhões de litros).
Quanto ao gasóleo rodoviário, que inclui o gasóleo simples, o especial e o biodiesel incorporado, as vendas tiveram uma recuperação face a 2020 e 2021, dois anos dominados pela covid-19, mas ainda não chegou aos níveis de 2019.
Em outubro deste ano, as vendas do gasóleo rodoviário chegaram, segundo a DGEG, a 3,7 milhões de toneladas, quando em outubro de 2019 o acumulado do ano era de 3,8 milhões (à volta de 4424 milhões de litros contra cerca de 4583 milhões de litros em 2019). O consumo deste combustível baixou em 2020 e começou a recuperar no ano passado.
As vendas dos vários combustíveis tiveram o seu pico no verão, mesmo durante a pandemia.
Reforçando a ideia de que o consumo reage mais à atividade económica do que aos preços, António Comprido apontou a diminuição das vendas nos períodos de recessão. No caso específico da covid-19, em que os consumos baixaram, destacou sobretudo a gasolina e o transporte individual.
Porém, lembra que a pandemia ficou marcada por "fatores com efeitos contrários". O teletrabalho reduziu as deslocações. Mas, para se protegerem, as pessoas também utilizaram mais o carro, em vez dos transportes públicos.
Sendo o gasóleo muito ligado à atividade económica, nota que os produtos tiveram de continuar a ser transportados para serem colocados nas prateleiras. E dispararam o comércio digital e o volume de entregas, com novas empresas de distribuição a surgirem.