A drástica subida do preço dos combustíveis "pode ser fatal" para grande parte da indústria das transportadoras, que serão obrigadas a repassar o custo para conseguir mitigar o aumento. Associação Nacional de Transportes Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM) convocou uma reunião para sábado para definir um conjunto de medidas para apresentar ao Governo.
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Com 1800 camiões nas estradas e cerca de dois milhões de litros de gasóleo gastos todos os meses nas deslocações, o combustível representa já cerca de 40% da estrutura de custos da transportadora Paulo Duarte, uma das maiores do país, que admite ter de "repassar o custo" para conseguir fazer frente ao aumento do preço dos combustíveis. "Vamos ter que repassar o custo aos nossos clientes. É a única forma das transportadoras mitigarem este tipo de anormalidade", afirma Gustavo Paulo Duarte ao JN.
O diretor-geral da empresa alerta para a "grande dificuldade" pela qual as empresas estão a passar, uma vez que desde o início de janeiro viram todos os custos a serem aumentados. "Pneus, seguros, todos os custos que impactam diretamente a nossa atividade tiveram um aumento mínimo de 10% desde o início do ano. O gasóleo já vai com 28%. Subiu 14 cêntimos esta semana e já se fala num aumento de 17 cêntimos na próxima segunda-feira", aponta.
Reduzir carga fiscal
Gustavo Paulo Duarte alerta que será o consumidor final quem sairá mais prejudicado com este aumento e, por isso, considera que o Governo terá que ser chamado a intervir, baixando a carga fiscal das empresas e dos contribuintes. "Está na altura de aliviar custos, uma vez que os preços estão a subir e os salários não estão a subir nas mesmas proporções".
Com 964 veículos e mais de cinco milhões de quilómetros percorridos no mês passado, a transportadora Luís Simões concorda que a mitigação do aumento do preço dos combustíveis deveria passar pela redução da carga fiscal, nomeadamente do Imposto Sobre Produtos Petrolíferos (ISP), e pelo aumento do combustível profissional, quer em litros de veículo por ano, quer no valor devolvido.
"Os aumentos exponenciais sofridos nos últimos meses oneram brutalmente a estrutura de custos e consequentemente toda a cadeia logística, desde a produção até ao consumidor final", indica a transportadora ao JN, revelando que o peso do combustível na estrutura de custos de um veículo passou de 30 para 39%.
Gás natural não é opção
Aliviar o impacto do aumento dos combustíveis obriga a um trabalho de sustentabilidade acrescido, mas Gustavo Paulo Duarte descarta a hipótese do gás natural. O diretor-geral garante que a transportadora é "das que tem mais viaturas alternativas" ao gasóleo, com cerca de 20 viaturas a gás natural, mas que deixou de ser rentável. "Primeiro, os camiões são mais caros. Além disso, um camião para fazer 13 mil quilómetros, há três meses, gastava seis mil euros em gasóleo. Hoje, para fazer os mesmos 13 mil quilómetros gasta 14 mil euros de gás", explica.
Reunião das transportadoras
O vice-presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM) afirma que no sábado haverá uma reunião com os associados, de forma a elencar um conjunto de medidas para propor ao Governo. A ANTRAM representa 2600 transportadoras, "cerca de 80% dos camiões em Portugal".