ROM Boats e Neptune Devotion revolucionaram setor da construção naval.
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Não há sujidade nem resíduos acumulados, como seria de esperar num estaleiro naval. Ali, quase à semelhança de um ateliê, há luminosidade, limpeza e preocupação estética, saltando à vista paredes com arte urbana. A Neptune Devotion, dedicada à remodelação de embarcações, e a ROM Boats, especializada na construção de barcos de luxo, ocuparam um estaleiro centenário devoluto, no Porto de Aveiro, transformando-o em modernos armazéns. E, à medida que revolucionam o setor, destacam-se pelos mesmos motivos: inovação tecnológica e sustentabilidade.
Na Neptune Devotion e na ROM Boats, aliam-se os mais precisos e tecnológicos métodos mecânicos ao trabalho manual. A estufa de pintura - que o CEO das empresas, Jorge Martins, diz ser "uma das mais sofisticadas da Península Ibérica" - está dotada com um sistema de aspiração com filtros de carvão, entre outras tecnologias de ponta. Ali, são utilizadas tintas à base de água e o odor é quase inexistente. E os edifícios são cobertos por uma vasta rede de painéis solares.
Jorge Martins admite que, quando criou a ROM Boats, em 2018, teve como prioridade destacar-se, "a nível tecnológico e de sustentabilidade". "Uma das questões que tínhamos era não fazer os compósitos - que é a peça do barco em bruto - aqui. Importamo-los de uma fábrica da Polónia, que tem certificações do ponto de vista ambiental para os produzir", explica. Além disso, é utilizada fibra de basalto, e não de vidro, e são utilizadas resinas ecológicas.
Foco no desemprego
"Sustentabilidade", para Jorge Martins, significa também ter em atenção as pessoas. "Temos um foco grande no desemprego. Aproveitamos essas pessoas para as requalificar, dar formação e especializá-las em profissões que estão em vias de extinção", conta o empresário, que emprega atualmente 16 pessoas.
Mauro Queirós, 32 anos, está a lixar um iate de luxo em remodelação. Isto porque as embarcações da ROM Boats rapidamente deram cartas no mercado. E, automaticamente, começou a procura para trabalhos de "refit" (remodelação), que veio a originar a Neptune. Mauro, antes operador de máquinas de cerâmica, está há três meses na empresa e começou "do zero". "Estou a gostar muito. É um estaleiro de excelência e totalmente inovador", garante.
A inovação, ali, não se vê apenas nos métodos de produção. As embarcações são todas equipadas com tecnologia de última geração, que facilita a sua governação, ao possibilitarem controlar o barco digitalmente, através de telemóvel. Ao mesmo tempo, é disponibilizado um local para guardar as embarcações a seco, com 160 "boxes" automatizadas. "A pessoa vai à app, diz que a que horas quer o barco na água e nós metemos. Depois, deixa-o aqui, nós lavamo-lo e guardamo-lo", explica Jorge Martins.