Retoma está centrada na capital, ficando para trás a promessa de benefício de todas as regiões que asseguraram resgate.
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A ansiada retoma do turismo e da aviação estão marcadas para este verão, mas a TAP faltou à chamada para o Porto. Face ao verão de 2019, este ano a companhia aérea nacional, cujo resgate de 2,55 mil milhões de euros implicava, segundo o Governo, serviço a todo o país, vai operar menos sete rotas e oferecer menos 705 mil lugares à partida do Norte. Restam apenas sete rotas internacionais e três domésticas, deixando espaço ao crescimento de outras companhias aéreas no Aeroporto Francisco Sá Carneiro.
O calendário de operações das companhias aéreas para este verão da aviação, iniciado no domingo passado, traz um reforço das operações no Porto por parte da maioria das principais empresas, exceto da TAP. A KLM anunciou, há dias, que vai reforçar a operação no Porto com dois voos diários para Amesterdão (era só um) e manter a ligação a Belgrado, Dubrovnik e Palma de Maiorca. A Easyjet vai acrescentar quatro novas rotas (Praga, Porto Santo, Madrid e Colónia) às 20 que já operava no Porto. Em julho, a norueguesa Flyr vai ligar o Porto a Oslo, numa das raras apostas fora do país de origem. A Lufthansa e a Swiss têm aumentos de mais de 100% em algumas rotas no Porto, como para Munique ou Zurique, respetivamente. E a Ryanair, apesar de já ter 70 destinos a partir do Porto, vai triplicar a capacidade nalgumas rotas e ainda vai abrir mais uma rota, para Bergerac (França). No total, o aeroporto deverá ter mais 700 mil lugares este verão.
Neste verão, a companhia aérea portuguesa vai ter menos 705 mil lugares e menos sete rotas internacionais no Porto, face ao período homólogo de 2019, reforçando apenas a ponte aérea para a capital com mais 40 mil lugares, a rota para o Funchal com mais 20 mil lugares e a ligação a Paris com mais 20 mil lugares. Simultaneamente, a companhia diminui a oferta que tinha em 2019 nas rotas para Genebra (-75 mil lugares), Londres Gatwick (-20 mil), Luxemburgo (-20 mil), Nova Iorque (-20 mil) e Zurique (-55 mil). Amesterdão, Barcelona, Bruxelas, London City, Madrid, Milão e Munique desaparecem das ligações da TAP no Porto neste verão.
Promessas falhadas
"Já não nos surpreende, mas um plano desses não é normal e não corresponde ao de uma companhia que sirva os interesses nacionais", comentou Nuno Botelho. "A TAP não é estratégica para o país, nem compensa o investimento que o Governo fez, apostando numa empresa ineficaz que não presta serviço público", acrescentou o presidente da Associação Comercial do Porto.
Antes de o plano de reestruturação da TAP ser apreciado por Bruxelas, em maio de 2020, António Costa prometia que a companhia passaria a assegurar serviço público em todas as regiões do país. "É muito importante para o país que a TAP seja bem gerida, tenha condições de sustentabilidade, seja um instrumento de desenvolvimento e coesão nacional e também de dinamização da economia nacional", disse o primeiro-ministro, há dois anos.
Há um ano, o Governo resgatou a companhia aérea de bandeira com 2,55 mil milhões de euros. Mas nada mudou na estratégia. Quer o Porto, quer o Algarve, que foi abandonado por completo nas ligações internacionais via TAP, reclamam serviço público.
"Estranho que a TAP, depois de uma injeção de capital do Estado, reduza as parcas ligações que tem ao Algarve", disse João Fernandes, presidente do Turismo do Algarve, em entrevista ao Dinheiro Vivo/ TSF. "Tinha três ligações no inverno e cinco ligações diárias no verão IATA. Passa agora a ter apenas três ligações Lisboa-Algarve para o verão deste ano. Não é normal que isto aconteça numa companhia onde acabámos de investir todos tantos recursos", apontou.
O JN questionou a TAP e o Ministério das Infraestruturas sobre a estratégia da companhia aérea em Portugal, mas a empresa declinou responder e o Governo não deu explicações.
Operação a 90% repõe todas as rotas anteriores à pandemia a partir de Lisboa
A Bolsa de Turismo de Lisboa, há pouco mais de uma semana, foi altura de a TAP anunciar as novidades para este ano: a retoma de 90% da operação e de todas as rotas que efetuava antes da pandemia. A nova CEO da TAP só não precisou que a retoma das rotas era referente a Lisboa, dado que o Porto continua com menos sete rotas do que em 2019. Christine Ourmières-Widener anunciou, ainda, a reintegração de cerca de 100 tripulantes que tinham sido despedidos, em 2020 e 2021, para assegurar serviço nos 1230 voos semanais que a companhia vai efetuar neste verão. Nos aeroportos de Porto e Funchal, verificou o JN, os reforços da TAP limitam-se à ponte aérea para Lisboa e, no caso do Norte, mais 20 mil lugares semanais para Paris.
Resgate condicional
Plano de reestruturação foi aprovado por Bruxelas com a condição de a TAP ceder 18 "slots" (janelas horárias) diárias no Aeroporto de Lisboa. As propostas das companhias interessadas serão finais a 12 de maio, mas a Comissão Europeia apenas decide em junho e a transferência só estará em vigor a partir de 30 de outubro.
"Slots" da discórdia
A Ryanair queria agilizar a libertação das "slots" já no verão e ameaçou cancelar 19 rotas em Lisboa. Além desta, só a Easyjet concorreu às mesmas "slots", prometendo basear mais três aviões na capital portuguesa e criar 100 empregos.