As indústrias da Região Norte estão mais expostas do que as do restante país às tarifas aduaneiras de 15% que vão passar a vigorar em agosto para produtos europeus que entram nos Estados Unidos da América (EUA). Os setores como o das armas, medicamentos ou vinho são alguns dos que mais dependem destas exportações.
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A indústria portuguesa mais dependente das exportações para os EUA é a das armas. Segundo o INE, no ano passado, Portugal exportou 84 milhões de euros em armas e munições, sendo que 60 milhões (71%) foram para os EUA. É o setor com maior percentagem, com a agravante de que quase toda a produção nacional está localizada em Viana do Castelo, na fábrica da Browning.
Falta a concorrência
Outros setores de relevo a Norte estão à espera de saber como vão ser taxados os países concorrentes. "Nós não sabemos como vão ser as condições tarifárias aplicadas a outros agentes internacionais, como a China, Vietname, Índia e Brasil. Estes são os quatro principais "players" do setor do calçado e movimentam 70% do negócio internacional", explica Paulo Gonçalves, porta-voz da Apiccaps, a associação dos industriais do calçado.
Este setor já pagava, em média, 10% de tarifas aduaneiras e vai passar a pagar 15%, adianta Paulo Gonçalves: "Nós vamos ser penalizados em cinco pontos percentuais, mas temos pela primeira vez um cenário de estabilidade".
A olhar para a concorrência também está César Araújo, da Anivec, a associação das indústrias do vestuário e confeção: "Nós ganhamos porque as taxas do têxtil e do vestuário começavam em 17% e iam até 32%, agora são de 15%. Com outra vantagem que é a de que países nossos concorrentes não eram tributados e agora são, como a Turquia, Egito, Marrocos".
Mário Machado, da ATP, do têxtil e vestuário, não é tão otimista: "Nalgumas empresas os seus clientes vão pagar tarifas mais elevadas e noutras vão pagar menos. É um mau acordo, mas é o acordo possível e inteligente por parte da CE para evitar uma guerra".
Outro setor dependente é o do vinho. Os EUA são o segundo maior destino dos vinhos portugueses e o quinto maior dos vinhos do Douro, incluindo vinho do Porto. Só nesta bebida, no ano passado, o Douro exportou 36 milhões de euros para os EUA.
Há ainda o setor da relojoaria e ourivesaria. João Faria, presidente da Associação de Ourivesaria e Relojoaria de Portugal, admite um impacto grande nos produtos de luxo: "Quando trabalhamos com taxas de 5% e passamos para 15% faz diferença. Estamos a falar de peças de elevado valor, onde essa percentagem tem ainda mais impacto. Sem dúvida que vai criar constrangimentos. Um Rolex de 20 mil euros pagava mil euros agora vai pagar três ou quatro mil".
Mais de 16.500 empresas pediram apoio ao Governo
O programa "Reforçar", de resposta do Governo português às primeiras tarifas impostas pelos EUA à União Europeia, em abril, já recebeu mais de 16.500 pedidos de apoio por parte de empresas nacionais.
O balanço foi feito na segunda-feira, em comunicado, pelo Ministério da Economia e da Coesão Territorial. No âmbito das linhas BPF Invest EU, geridas pelo Banco Português de Fomento, foram recebidas 14 mil candidaturas, totalizando 3,2 mil milhões de euros, dos quais 2,5 mil milhões foram já aprovados e 1,6 mil milhões pagos às empresas. Foi também lançada a linha BPF Invest Export PT, dedicada às pequenas e médias empresas exportadoras, que conta já com 2600 candidaturas, no valor de 1300 milhões de euros. Deste montante, 600 milhões já foram aprovados.
O Governo promete que vai ficar "atento para atuar em situações que se mostrem particularmente relevantes" e admite criar novos apoios. O programa "Reforçar" dispõe de mais de dez mil milhões de euros para empresas, quase tudo em linhas de crédito.
Europeus divididos entre os elogios e as críticas a Von der Leyen
Poucos líderes europeus parecem ter ficado totalmente satisfeitos com o acordo alcançado por Ursula von der Leyen em nome dos 27 países que compõem a União Europeia (UE), mas só alguns criticaram, em particular as tarifas de 15% quando a UE aplica 0% aos produtos dos Estados Unidos.
Na maior economia da Europa, a alemã, o chanceler Friedrich Merz saudou o acordo porque permite "evitar uma escalada desnecessária nas relações comerciais". Embora tenha admitido que desejava "mais reduções" face à fase inicial de 30% de tarifas, Merz realçou que o acordo permite "preservar os interesses fundamentais".
Já o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, disse que apoia o acordo "sem entusiasmo" e o homólogo francês, François Bayrou, foi duro: "É um dia sombrio aquele em que uma aliança de povos livres se resigna à submissão".
Quem também criticou Von der Leyen foi Viktor Orbán, o primeiro-ministro da Hungria, que elogiou Trump: "Comeu Ursula von der Leyen ao pequeno-almoço". O ex-presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, afirmou que o acordo é "humilhante para os europeus" e "antirrusso", por proibir transações com Moscovo.
Por fim, António Costa, presidente do Conselho Europeu, foi dos poucos que elogiaram o acordo sem reservas: "Oferece às empresas a certeza de que precisam".