“Temos de equilibrar o custo da água para que a população considere o preço justo”
Amadeu Albergaria, presidente da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira
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O concelho de Santa Maria da Feira é um dos acionistas da empresa Águas do Douro e Paiva, que está a comemorar 30 anos de existência. Este sistema de fornecimento em alta supre as principais necessidades, mas há ainda trabalho a fazer para que a disponibilidade de água em quantidade e qualidade chegue a todas as casas.
Qual é a atual situação do concelho ao nível do abastecimento de água?
Santa Maria da Feira tem uma taxa de cobertura de serviço de água de 98%, o que coloca o concelho a níveis de excelência do ponto de vista europeu. Temos uma taxa de adesão na ordem dos 79%, o que significa que há aqui um caminho ainda a ser feito. A qualidade da água tem sido reconhecida e premiada. Em 2024 voltou a ser atribuído o selo de qualidade de água para consumo humano pela Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos.
Tem sido vantajoso integrar a Águas do Douro e Paiva?
Sim. Desde a nossa adesão, pelo menos que me tenham reportado ou que eu tenha conhecimento, nunca houve qualquer tipo de constrangimentos. Tivemos sempre a garantia do abastecimento em quantidade, em qualidade e em continuidade. Portanto, penso que foi vantajoso.
E como era antes?
O que sucedeu é que nós deixámos de ter problemas com a quantidade, a qualidade e a continuidade. Estes problemas estavam associados às captações que tínhamos no concelho e que, entretanto, foram desativadas. O facto de termos integrado o sistema da Águas do Douro e Paiva resolveu aqueles que eram os nossos constrangimentos quando tínhamos captações próprias.
Ainda assim há mais desafios pela frente?
O principal desafio, e eu acho que é a nível nacional, é a gestão eficiente da água e a adaptação dos planos de segurança aos reptos que decorrem das alterações climáticas que sentimos cada vez mais. Penso que esse é o principal desafio que temos todos de enfrentar agora.
Outros autarcas têm dito que seria importante conseguir também um tarifário que seja igual para todos a nível nacional, concorda?
Concordo. Temos de, como país, como decisores, tanto nacionais como locais, de equilibrar o custo da água, para que a população considere que o preço que paga é justo. Até para que isso sirva para termos um país que seja, neste nível, mais justo, mais solidário e, essencialmente, mais coeso.
Há necessidade de novos investimentos no concelho relacionados com a água?
Como referi, a taxa de cobertura de serviço de água é de 98% e, apesar de todo o investimento feito pela Câmara e pela concessionária em baixa, a Indaqua, temos identificadas pequenas extensões de rede que nos vão permitir atingir uma taxa próxima dos 100%. Todos os anos, em todos os nossos orçamentos municipais, prevemos verbas para aumentar a taxa de cobertura.
Qual o investimento previsto?
O que pensamos gastar nos próximos dois a três anos são cerca de cinco milhões de euros.
Qual a percentagem de perdas de água no concelho?
Neste momento, temos um valor de perdas de 14,9%, que é um valor muito abaixo da média nacional.
O objetivo é continuar a reduzir. Como?
Sim. A concessionária tem investido bastante em tecnologia para a sensorização da rede com base em dados provenientes do caudal, nomeadamente a pressão e a otimização da gestão. Faz uma pesquisa ativa de fugas. Há planos de manutenção preventiva das infraestruturas e dos seus acessórios. Há um plano de gestão patrimonial de infraestruturas, nomeadamente procura-se remodelar permanentemente a rede e faz-se também a manutenção do parque de contadores. Portanto, são estas as grandes linhas que fazem com que consigamos atingir estes 14,9% de perdas de água.
A tecnologia usada já recorre à inteligência artificial (IA)?
Neste momento, a concessionária e a Câmara têm já implementado um projeto baseado na IA. Por exemplo, quando se analisa a variação da vegetação na proximidade das redes, conseguem-se identificar possíveis fugas de longa duração com base na correlação que existe a presença de água e o crescimento da vegetação. É um exemplo concreto do uso de IA no Município de Santa Maria da Feira.