Sindicatos contestam uma possível venda ao grupo IAG, dono da Iberia e da British Airways, e admitem riscos para a companhia e para o país se negócio avançar.
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“Estamos sempre abertos a ter grandes empresas, grandes marcas no nosso portefólio e, para ser honesto, queremos ver as condições da privatização da TAP, porque penso que seria algo interessante para nós”, disse na quarta-feira, em Lisboa, o CEO do International Airlines Group (IAG). Na véspera de serem conhecidas as condições de venda da companhia, Luís Gallego reiterou o interesse em fazer negócio com o Estado português e entrar no capital da TAP. O namoro do grupo - que detém a espanhola Iberia e a British Airways - com a transportadora portuguesa tem suscitado receios sobre o futuro.
Para os trabalhadores da empresa liderada por Luís Rodrigues, o desfecho positivo de um negócio com a IAG poderá trazer dissabores. “Há o risco de o hub ser desviado para Madrid e de a TAP ser uma companhia de lançamento que os grupos compram para ocupar as nossas rotas que são muito lucrativas”, alerta o presidente do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC). Tiago Faria Lopes receia ainda o futuro dos direitos laborais. Para o líder dos pilotos, é imperativo que o Governo analise o historial dos futuros compradores e perceba qual a atuação feita no passado em contextos idênticos.
Air France seria a melhor
Também o Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Aviação Civil (Sintac) teme que a IAG se aproveite da TAP. “A IAG pode ter interesse em ficar com o mercado da TAP. É fácil começarmos a pensar que vamos ficar sem hub porque há o interesse de que Madrid fique a controlar esta área geográfica”, explica o líder da estrutura sindical, Pedro Figueiredo.
Já para o Sindicato dos Trabalhadores e Aviação (Sitava), a “IAG poderia ser logo excluída” da lista de candidatos pelos fatores de proximidade dos hubs e também pelos exemplos passados do grupo. “A British Airways, que não tinha dinheiro nem aviões, canibalizou a Iberia, ficando com o dinheiro e com as aeronaves da companhia”, diz, referindo-se ao processo de fusão das duas empresas em 2010. O presidente do Sitava afasta também o casamento com a alemã Lufthansa. “A Lufthansa tornou todas as empresas que adquiriu menores e colocou-as a trabalhar ao seu serviço”, aponta, admitindo que a franco-holandesa Air France-KLM, também interessada na compra da TAP, “é a mais atrativa”.
Cinco meses depois de o Governo ter dado o tiro de partida para a reprivatização da TAP, será aprovado esta quinta-feira, em Conselho de Ministros, o diploma que enquadra a venda da companhia. Depois de conhecido o caderno de encargos e as condições para a venda da empresa, os interessados na compra podem apresentar propostas. Um dos aspetos essenciais a saber respeita à fatia que o Estado está disposto a alienar. O alvoroço instalou-se quando, na semana passada, António Costa abriu porta à venda total da empresa.
As declarações não foram bem recebidas pelos trabalhadores que, apesar de reconhecerem os benefícios da privatização, defendem como vital a presença do Estado no capital acionista para salvaguardar os interesses nacionais.
“Não nos opomos à privatização”, indica Pedro Figueiredo, do Sintac, acrescentando: “Não podemos admitir que o Estado se retire desta equação, podendo estar a condenar a TAP no médio e longo prazo”.