A greve na Silopor - Empresa de Silos Portuários ao trabalho em horas extraordinárias, convocada até final de fevereiro, foi esta quarta-feira suspensa e os trabalhadores aguardam uma proposta da empresa para revisão da tabela salarial, disse o sindicato.
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"[A greve] foi suspensa, uma vez que o Governo autorizou a comissão liquidatária a negociar com o sindicato a revisão do acordo de empresa", disse à Lusa Célia Lopes, do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP).
Segundo a dirigente sindical, o sindicato tinha garantido que, após aquela autorização, daria tempo à empresa para ponderar sobre a proposta a apresentar aos trabalhadores. "Tal como se comprometeram, os trabalhadores vão aguardar que a empresa possa apresentar uma proposta para a revisão da tabela salarial", vincou Célia Lopes.
Em comunicado enviado posteriormente, o sindicato explicou que, "tendo em conta os compromissos assumidos na reunião de 10 de janeiro no Ministério do Trabalho, a Comissão Liquidatária, dispõe agora de 30 dias para apresentar a sua resposta à proposta de revisão do Acordo de Empresa feita pelo CESP".
"Em conversa com a Comissão Liquidatária esta comunicou-nos estarem a fazer todos os esforços para que seja possível antecipar os 30 dias, apresentando mais cedo a sua contraproposta para revisão do Acordo de Empresa", acrescentou o sindicato.
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Os trabalhadores reivindicam um aumento mínimo de 100 euros. Ainda segundo o sindicato, a Direção Geral do Tesouro comunicou "à Comissão Liquidatária que deve passar a efetivos todos os trabalhadores contratados a prazo antes de 2 de maio de 2021".
O Ministério da Agricultura e da Alimentação garantiu, na terça-feira, estar a acompanhar "com atenção" a situação da Silopor, adiantando que, até então, não tinha registo de falta de abastecimento de bens alimentares.
Ao JN, Jaime Piçarra, secretário-geral da Associação Portuguesa dos Industriais dos Alimentos Compostos para Animais (IACA) espera que a paralisação não seja retomada após a suspensão de 30 dias. O representante espera que haja estabilidade na cadeia do abastecimento de alimentos, para não causar ruturas ou possíveis aumentos do preço dos produtos.
Prejuízos de milhares de euros
As organizações que representam o comércio e indústria alimentar alertaram, também na terça-feira, para que a greve na Silopor estava a "ameaçar" o abastecimento alimentar, culpando um despacho da ex-secretária de Estado Alexandra Reis pela paralisação.
"O facto de acontecer na sequência da greve dos trabalhadores das administrações portuárias agrava o acesso da fileira agroalimentar a matérias-primas essenciais para a produção de leite, pão, carne e ovos", avisaram, destacando que "as instituições representativas destes setores preconizam um novo aumento de preços e a rutura pontual do abastecimento destes produtos em alguns locais de venda".
As associações ACICO (Associação Nacional de Armazenistas, Comerciantes e Importadores de Cereais e Oleaginosas), APIM (Associação Portuguesa da Indústria de Moagem), IACA, FEPASA (Federação Portuguesa das Associações Avícolas) e FPAS (Federação Portuguesa das Associações de Suinicultores) disseram, ainda, que "esta greve tem origem numa decisão da ex-secretária de Estado [do Tesouro], Alexandra Reis, que colocou em vigor um despacho que impede o aumento dos trabalhadores das empresas de capitais públicos em liquidação, situação em que se encontra a Silopor há mais de vinte anos".
Segundo estas entidades, "a revogação da medida em causa representa" um impacto "de, sensivelmente, 7 mil euros por mês".
"A greve em curso desde o início do mês já está a provocar atrasos na descarga de grandes navios de cereais importados, dos quais Portugal depende em mais de 80% para o abastecimento da sua indústria para a alimentação humana e animal. O impacto para os importadores é de cerca de 50 mil euros por cada dia de atraso", alertaram na altura.