
Hélder Rocha não recebeu o mês de março
Pedro Correia/Global Imagens
No último mês, chegaram mais de 1500 pedidos de ajuda devido a salários em atraso ao Sindicato de Hotelaria.
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Há salários em atraso e os despedimentos estão a aumentar na hotelaria e na restauração. A denúncia é do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Norte que, todos os dias, recebe novos pedidos de ajuda por parte de funcionários do setor.
Edner Pereira e Hélder Rocha são apenas dois entre as centenas de relatos. A trabalhar num café na Baixa do Porto, Hélder Rocha não recebeu o mês de março. Está com o contrato de trabalho suspenso e a receber o fundo de desemprego. Já Edner Pereira está sem emprego e ordenado há dois meses. O restaurante onde trabalhava, na Ribeira, fechou portas. Aos trabalhadores foi proposta a rescisão de contrato, mas o responsável pela cozinha não aceitou por considerar não estarem assegurados os seus direitos. O sindicato pediu a intervenção da Autoridade para as Condições do Trabalho. Desde março, foram feitos 160 pedidos de fiscalização.
"Há trabalhadores que já não sabem o que fazer para pagar as contas. É preocupante", conta Nuno Coelho, dirigente do sindicato, que estima em mais 1500 as denúncias devido a salários em atraso.
Edner Pereira, de 31 anos, não esconde as dificuldades. Tem contas por pagar e, para garantir alimento à mesa, recorre ao cartão de crédito e à ajuda de familiares. Trabalha há cerca de três anos no restaurante O Muro, na Ribeira. Diz não ter recebido março e abril e rejeitou o acordo de rescisão de contrato. Foi o único no restaurante. "O acordo dizia que estávamos a rescindir o contrato com a empresa e que recebíamos o valor que eles tinham determinado", diz.
Contactado pelo JN, Pedro Cálem, gerente do restaurante, explica que o negócio "foi acumulando prejuízos durante os três anos e meio de existência", nunca tendo ficado "um salário por pagar". Com o surgimento do novo coronavírus e sem apoios, em vez de "uma falência técnica ou insolvência", sublinha que foi feita uma proposta aos trabalhadores, tendo sido injetado dinheiro para pagar ordenados e indemnizações.
"Assustado"
Ao serviço do café Cancela Velha há 20 anos, Hélder Rocha tem o mês de março por receber. Está em casa desde o fecho das escolas a dar apoio à filha e acompanhou o encerramento do estabelecimento à distância. "Fiquei assustado a partir do momento em que nos disseram que não iam conseguir pagar o salário e ainda mais assustado quando percebi que não preenchiam os critérios para aceder ao lay-off", recorda .
Sem apoios, a alternativa foi suspender o contrato e requerer o subsídio de desemprego. Ao JN, Maria Felisberta Monteiro, filha do dono e também funcionária no café, explica que após o fecho, a empresa deixou de "ter qualquer apuro", ficando impossibilitada de pagar salários e pagar contas. Tentou o lay-off e um empréstimo bancário. Ambos foram negados. "Ficamos de mãos e pés atados", lamenta.
