Proporção de viagens afetadas é superior à das outras companhias que usam a Portela. Operação mal calculada e falta de tripulação agravam problemas que atingem aviação.
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O cancelamento de 121 voos neste fim de semana no Aeroporto de Lisboa deixou milhares de passageiros em terra, sem assistência e sem data razoável para voar. Três em cada quatro (75%) eram da TAP, quando a companhia operou 53,5% do total de voos da Portela. Os transtornos internacionais (ler caixa) explicam parte do problema, mas fontes do setor temem que a situação vá manter-se devido à gestão da TAP.
"Todos os portugueses e contribuintes que têm noção do valor da TAP gostariam que a companhia sobrevivesse, mas com esta gestão não vai acontecer", lamentou Tiago Faria Lopes. O presidente do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) denunciou mais um dos "negócios ruinosos" da companhia portuguesa, que contratou uma companhia externa (Eastern Airways) para realizar voos já vendidos, mas que tiveram de ser cancelados por "não reunir condições mínimas para voar".
"Não sabemos o valor do negócio, mas é certo que os custos dos cancelamentos, das indemnizações aos passageiros e de imagem da TAP são elevadíssimos", lamentou, lembrando que, há meses, um negócio semelhante foi feito com a Bulgaria Air, que não pôde voar por uns dias por não ter seguros. "Faltam pilotos e, no entanto, a empresa mantém 17 em casa porque o tribunal mandou reintegrá-los e a TAP recorreu", acrescentou.
Há dias, exemplificou o presidente do SPAC, "foi cancelado um voo para o Sal - que é extremamente rentável - porque não avisaram a tripulação de que o voo vinha atrasado e, como as horas de serviço são rigorosas, quando chegou a aeronave, os pilotos não podiam seguir para o destino".
Uma maior "perspicácia de previsão" ajudaria a evitar cancelamentos, defendeu Pedro Castro, consultor em aviação. "Muitos destes problemas podem ser antecipados. Caso não sejam, as companhias devem comunicar de forma eficaz e oferecer alternativas aos passageiros de forma digital, evitando o cenário de caos a que temos assistido", acrescentou.
Ao JN, e sem responder às questões colocadas, fonte da TAP assegurou que a companhia está a fazer o seu melhor para "minimizar o impacto desta situação".
problema nacional
Outra alternativa, sugeriu o consultor, seria "divergir temporariamente para aeroportos mais pequenos que são menos afetados pelos problemas nos aeroportos maiores". Porto e Faro, por exemplo, tiveram apenas seis e quatro voos cancelados no fim de semana, respetivamente.
"Muitos dos cancelamentos da TAP resultam dos problemas causados pelas greves e atrasos noutros aeroportos", assegurou uma fonte do setor. "Se Amesterdão está com problemas e o avião vai de cá, mas não sabemos a que horas vem de lá, mais vale cancelar a ida e a volta", acrescentou.
As companhias aéreas estrangeiras que usam a Portela não tiveram cancelamentos em massa, como a TAP. Em 652 movimentos, no sábado, 360 eram da TAP (55,2%), e foram cancelados 69 voos, dos quais 75,3% (52) da companhia portuguesa. Air France, British Airlines, KLM e Easyjet cancelaram apenas dois voos. Ontem, em 693 movimentos, dos quais 359 da TAP (51,8%), foram cancelados 52, dos quais 39 (75%) da empresa nacional.
Mundo
Greves a nível internacional são "dominó"
Amesterdão, Frankfurt, Londres Heathrow, Zurique, Paris Charles de Gaulle e Portela contam-se entre os aeroportos de todo o Mundo com mais voos atrasados ou cancelados, segundo sites de monitorização da aviação como o Flightaware.com. Com mais de 300 voos atrasados ontem, em Amesterdão, nem a TAP, nem a KLM arriscaram fazer a ligação no sábado e no domingo. Além da falta de pessoal nos aeroportos para despachar passageiros na segurança, check-in e bagagens - uma situação que se repete dos EUA à China -, há greves de controladores aéreos, tripulantes de cabina e de pessoal de terra a condicionar as operações. Segundo os especialistas, o problema não ficará resolvido durante o verão, a época de maior pressão.
Direitos
600 euros no longo curso
As companhias aéreas que cancelem voos com menos de 14 dias de antecedência têm de indemnizar os passageiros em 250 (voos de 1500 quilómetros ou menos), 400 (dentro da UE até 3500 quilómetros) ou 600 euros (longo curso). Além disso, têm de prestar assistência ao passageiro.
Reclamar online
No caso dos voos cancelados em Portugal e que, a menos de sete dias da data, não tenham tido remarcação que permitisse chegar ao destino até duas horas depois da hora original, a reclamação deve ser feita aqui.