O presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, considerou, esta sexta-feira, que a crise mundial foi criada não pela economia real mas pelo sector financeiro, e está a ser amplificada, em parte, pelos incentivos "desmedidos" dos banqueiros.
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"Uma das lições desta crise é o que o risco nos mercados não veio dos problemas da economia real mas sim do sector financeiro em si. Os incentivos desmedidos amplificaram a crise", afirmou em Madrid.
Numa intervenção dedicada ao que já foi feito e "ainda está por fazer" para reformar o sistema financeiro global, Trichet destacou, por exemplo, que os resgates da Lehman Brothers e da AIG demonstraram os "problemas do mercado de derivados".
Aqui, como no sector financeiro, continuam a ser necessários mais passos para garantir "mais transparência" e mais regulação, apostando em garantir, o mais possível, que as regras e normas são as mesmas em todo o mundo.
Evitar "buracos de informação" que continuam a existir em alguns casos é igualmente essencial para garantir que se fortalece o sistema de prevenção de crises, nomeadamente para conseguir "detectar riscos sistémicos".
Avaliar o risco e medir o seu impacto na economia real é, actualmente, o grande desafio, num momento em que, segundo Trichet, a comunidade internacional "apenas está a meio caminho" das reformas necessárias.
"Ainda falta muito por fazer. Estamos a meio das reformas", disse, considerando que sem essa reforma concretizada, dificilmente se conseguirá evitar futuras crises.
Sem a reforma, defendeu, os países não estarão disponíveis para, no futuro voltar a ajudar o sector financeiro. "Os cidadãos não estarão dispostos a aguentar um segundo resgate bancário com apoio público", disse.
Ao mesmo tempo, Trichet referiu-se aos primeiros sinais de recuperação mundial e a argumentos de que se deve voltar ao "business as usual".
"Algumas vozes dizem que se deve voltar ao mercado como era antes das reformas. Não partilho essa opinião", afirmou.