Vasco Manuel da Silva Pereira, o novo presidente do Conselho Geral e de Supervisão (CGS) do Crédito Agrícola era membro da Comissão de Ética do Banco de Portugal (BdP) desde 2017.
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Este é um dos casos de movimento de quadros entre o supervisor e o Crédito Agrícola (CA) que "causa estranheza" a dois ex-auditores do grupo bancário. Alegam que a existência de "portas giratórias" entre supervisor e supervisionado podem ter gerado eventuais conflitos de interesses.
O "chairman" do CA tem como função fiscalizar a administração executiva do CA, que é presidido por Licínio Pereira. Vasco Pereira foi eleito, em maio de 2019, vice-presidente do CGS. Mas o nome proposto para presidente - António Varela, ex-administrador do BdP -, não obteve a autorização do supervisor. Vasco Pereira assumiu o cargo.
O JN/Dinheiro Vivo apurou que Vasco Pereira renunciou ao cargo na Comissão de Ética do BdP em setembro de 2019. Tinha sido nomeado para a função em 2017 por indicação do próprio banco central. Pelas suas mãos passou a análise de casos como a decisão de Elisa Ferreira, então vice-governadora do BdP, de não pedir escusa nas decisões sobre a Caixa Geral de Depósitos (CGD) na sequência de uma auditoria da EY. O seu marido, Fernando Freire de Sousa, foi administrador da La Seda e reuniu-se com a CGD sobre um investimento que se tornou num pesadelo para o banco.
O jornal "Público" noticiou na terça-feira que Elisa Ferreira aprovou sozinha a recondução de Licínio Pina na liderança do CA. Também deu o aval a um administrador do grupo, Sérgio Frade.
Incómodo no BdP
O caso do aval de Elisa Ferreira está incomodar quadros superiores do BdP, segundo o "Público", devido às polémicas. No caso de Licínio Pina, devido ao facto de a sua mulher ter estado a receber 2000€ mensalmente no CA para dar "estabilidade emocional" ao marido. Quanto a Sérgio Frade, participou numa reunião em que foi decidida a venda de um imóvel a uma sociedade gerida pela mãe, Gracinda Raposo.
Elisa Ferreira presidiu, até 15 de outubro, à comissão diretiva do Fundo de Garantia do Crédito Agrícola.
Tanto o BdP como o CA negam a existência de conflitos de interesse.
Mas Vasco Pereira não é caso único. Em 2014, João Costa Pinto, ex-presidente do CA, foi nomeado presidente do Conselho de Auditoria do BdP. Também a nomeação de Maria João Leal, ex-coordenadora de autorizações do BdP para diretora de Acompanhamento e Supervisão do CA, é questionada.
Os ex-auditores, Fátima Mata e Francisco Pereira, que pertenciam à equipa que auditava as Caixas Agrícolas, questionam também a saída, em 2015, dos responsáveis pelo Departamento de Supervisão Prudencial do BdP - Luís Costa Ferreira e Pedro Machado - para a PwC , a atual auditora do CA. A contratação da PwC coincidiu com o despedimento coletivo dos dois auditores. "Esta situação de movimentação de elementos que transitam entre o BdP, empresas de auditoria, como a PwC, e a Caixa Central (grupo CA) não pode deixar de causar estranheza aos olhos de um observador económico imparcial", referem os ex-auditores no processo em que procuram impugnar o despedimento. Sustentam que o movimento de quadros "é suscetível de gerar dúvidas fundadas quanto à neutralidade dos dirigentes responsáveis e com influência".